"O meu amor, dedicação, carinho, sonhos de um futuro transcendente, vai para minhas queridas crianças autistas, que, de forma silenciosa e, até muitas vezes geniais, nos revelam um lado inexplorado do ser humano."
"Não devemos permitir que uma só criança fique em sua situação atual sem desenvolvê-la até onde seu funcionamento nos permite descobrir que é capaz de chegar. Os cromossomos não têm a última palavra". (Reuven Feuerstein)
domingo, 1 de junho de 2014
Menino com autismo vira contador de histórias em escola de Itanhaém, SP
Diego Escada foi diagnosticado
com o transtorno aos três anos de idade.
Na escola, ele acompanha a turma, faz desenhos e conta histórias.

Diego mostra os desenhos que
utiliza para contar histórias para a classe
Um menino autista de 10 anos
virou o contador de histórias de sua classe em uma escola municipal de Itanhaém, no litoral de São Paulo. Diego
Escada Louzada apresentou, desde pequeno, as características do transtorno, mas
a convivência com outras pessoas na escola lhe trouxe mais conhecimento do
mundo e de si. O jeito inibido, característico do autismo, é pouco perceptível
em Diego enquanto ele brinca de contar histórias para a turma e é aplaudido
pelas outras crianças. O que poderia ser considerado um desafio para qualquer
autista, é um prazer para ele.

escola do menino (Foto: Mariane Rossi/G1)
Tatiana Escada descobriu que o filho tinha autismo quando o menino estava com três anos. Ela começou a notar algumas atitudes estranhas do filho. “Ele apontava as coisas, não falava o que queria, tinha resistência à dor. Com um barulho muito estridente, ele colocava as mãos nos ouvidos. A gente foi reunindo os fatos e fomos a um neurologista”, conta ela.
Segundo o Ministério
da Saúde, o autismo é considerado uma síndrome neuropsiquiátrica.
Embora seja uma etiologia específica que não tenha sido identificada, estudos
sugerem a presença de alguns fatores genéticos e neurobiológicos que podem
estar associados ao autismo. Diversos sinais e sintomas podem estar ou não
presentes, mas as características de isolamento e imutabilidade de condutas
estão sempre presentes. Tatiana diz que a notícia foi um baque para ela e a
família. “Você se questiona muito. Até entrei em uma depressão. Depois, li
muito sobre o assunto e comecei a entender e foi fluindo. Hoje eu trato ele
como uma criança normal”, fala. Após o diagnóstico, Diego iniciou o tratamento
com fonoaudióloga, pedagoga e neuropsicóloga.
Tatiana e o Diego saíram de Santos, onde moravam com o pai do garoto, e foram viver em Itanhaém. Mesmo com o transtorno, Diego foi matriculado na escola municipal Maria Graciette Dias, pelo sistema de inclusão. “O Diego é um autista. Todos os autistas têm direito a um estagiário. Eles são estudantes e ficam com essas crianças de inclusão. Na nossa escola, a gente tem uma média de 13 crianças especiais.”, explica a diretora Rita de Cássia Brandão Gouvêa.
Tatiana e o Diego saíram de Santos, onde moravam com o pai do garoto, e foram viver em Itanhaém. Mesmo com o transtorno, Diego foi matriculado na escola municipal Maria Graciette Dias, pelo sistema de inclusão. “O Diego é um autista. Todos os autistas têm direito a um estagiário. Eles são estudantes e ficam com essas crianças de inclusão. Na nossa escola, a gente tem uma média de 13 crianças especiais.”, explica a diretora Rita de Cássia Brandão Gouvêa.
A professora Marlene
Carraro Mucsi, de 50 anos, diz que Diego chegou na escola muito arredio e não
gostava muito de ter contato com as pessoas. Ela só acompanhava o menino
de longe, mas, neste ano, começou a dar aulas para Diego. “Já tinha trabalhado
com outras deficiências, mas com autismo foi a primeira vez”, diz. A professora
foi aprendendo a lidar com o menino no dia a dia. “O grau do autismo dele é
leve, não há necessidade de trabalhar atividades diferenciadas com ele, o que
precisamos é respeitar o tempo. A gente conhece outros autistas que são
agressivos, inquietos, não param sentados em sala de aula. Não é o caso dele”,
explica a professora. Ela ressalta que Diego acompanha as lições na classe do
5º ano como qualquer outro aluno. Segundo Marlene, o menino lê muito bem, é
alfabético, consegue fazer contas e resolver os problemas de matemática.

A convivência com outras crianças
e os cuidados das professoras fez o menino melhorar de comportamento e também a
ganhar mais conhecimento. Na escola, ele também descobriu, principalmente, a
aptidão para o desenho e animação. A mãe dele conta que o menino adora ficar no
computador, vendo vídeos, fazendo desenhos e criando histórias, principalmente,
com o Mickey, o personagem preferido de Diego.
Na sala de aula, ele coloca os
desenhos na lousa digital e vira um contador de histórias, interpretando os
personagens. “Eu faço a narradora e ele o Mickey. Na verdade, ele não lê a
história, ele decora as falas. De vez em quando, é no início da aula, às vezes,
é no final”, explica a professora. Do outro lado da sala, estão diversos outros
alunos com a mesma idade de Diego. Eles riem com a interpretação do menino,
entendem a história e, no final, batem palmas pela apresentação do colega de
classe. “Para ele é bom. A questão de ele desenhar bem também motiva as outras
crianças a quererem desenhar como ele. Já cria um convívio, uma proximidade”,
diz a mãe do menino.
Diego e a professora contando
histórias para a classe
Por causa da contação de
histórias, Diego também passou a ter mais comunicação com as pessoas, mesmo
que, assim como outros autistas, não goste de muito contato físico. Tatiane vê
o quanto o filho melhorou no âmbito social. “Ele começou a evoluir de uma maneira
tão rápida, até na questão de amizade, tem mais carinho, mais afeto das outras
crianças, tem a estagiária que fica direto com ele. Eu me arrependi de não ter
colocado antes nessa escola”, admite.
Já Diego mostra orgulhoso os desenhos do Mickey, expostos em um painel que foi colocado em um dos corredores da escola. Para a mãe, o futuro do filho sempre estará ligado ao mundo da animação. “Ele fala que quer trabalhar na parte de animação de estúdios. Eu acho que é o que ele vai acabar seguindo”, diz Tatiana.
Fonte: http://g1.globo.com
Já Diego mostra orgulhoso os desenhos do Mickey, expostos em um painel que foi colocado em um dos corredores da escola. Para a mãe, o futuro do filho sempre estará ligado ao mundo da animação. “Ele fala que quer trabalhar na parte de animação de estúdios. Eu acho que é o que ele vai acabar seguindo”, diz Tatiana.
Fonte: http://g1.globo.com
sábado, 31 de maio de 2014
II SEMINÁRIO MINEIRO SOBRE NEUROEDUCAÇÃO
“Nenhum cérebro é igual ao outro. Somos frutos de uma
interessante mistura de acaso, genética e ambiente O espectro autista
pode ser considerado como um dos grandes geradores de diversidade cognitiva da
humanidade. A diversidade cognitiva no autismo não favorece a todos no atual
panorama social humano.
Percebendo essa falta de oportunidade para indivíduos
autistas, diversos países criaram centros de excelência para o estudo do
autismo. Esses centros, na maioria dos casos financiados por cooperativas que
incluem o governo, têm como objetivo principal a inclusão e a independência dos
autistas. Não é uma postura assistencialista, mas sim cientifica. A razão de
ser desses centros, baseia-se no fato de que a ciência seria a única forma de
atingir resultados rápidos e promissores para tratamento de sintomas do
espectro autista. Não existe um centro desse tipo no Brasil. Em viagens ao
país, percebo uma comunidade pró-autista forte, mas pulverizada e com pouca
força politica.
Para os pesquisadores, as descobertas podem levar a novas
estratégias de tratamento e novas maneiras de detectar o autismo mais
precocemente.” (Alysson Muotri).
Que no Brasil este projeto possa ser uma realidade. Parabéns
dr Alysson! Orgulho para nós brasileiros: inteligência, lucidez, simplicidade e
bom senso. Deus esteja com você sempre!
quarta-feira, 23 de abril de 2014
Autista de Alto Funcionamento sofre horrores no trote de medicina
Hoje,
protegido e longe do terror que viveu no primeiro dia do curso de medicina,
Luiz Fernando mostra o rosto pela primeira vez. Vítima de trote violento, ele
ficou um mês escondido com medo de ameaças e agressões.
“Chutes,
garrafadas, chutes de pontapé. Muitas vezes alguém dava tapa quando eu estava
andando”, conta Luiz Fernando.
Aos 22 anos,
Luiz Fernando passou em um vestibular muito disputado. Órfão de pai, vive com a
mãe e um irmão em uma cidade da periferia de Belo Horizonte. Ele tinha um
sonho: “Queria fazer medicina porque eu tenho um irmão deficiente, queira
ajudar ele a ter melhor condições de vida”, revela.
Entrou na
respeitada Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto, no interior de São
Paulo. “Vivi os piores momentos da minha vida. Com o tempo fui percebendo que o
sonho virou terror na minha vida. Tudo foi só sofrimento”, conta Luiz Fernando.
Luiz
Fernando tem autismo, um transtorno que dificulta o convívio social. No caso
dele, a doença tem um grau leve. “Então, ele é um autismo de alto
funcionamento. É um rapaz muito inteligente, mas tem prejuízos na linguagem”,
explica a pedagoga Ozana Leal.
Fonte: http://g1.globo.com/fantastico/noticia/2014/04/vivi-os-piores-momentos-da-minha-vida-diz-jovem-sobre-trotes.html
domingo, 20 de abril de 2014
Cartilha sobre o autismo é lançada
O Ministério da Saúde lançou diretrizes para o diagnóstico e
o tratamento do autismo no Brasil, no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS).
Entre as novidades está uma cartilha para ajudar na identificação precoce do
problema em crianças com até três anos de idade.
Cerca de 100 mil exemplares da cartilha vão ser distribuídos,
em um primeiro momento, para médicos e profissionais de saúde do SUS de todo o
país. O documento vai trazer uma tabela com indicadores de desenvolvimento
infantil e sinais de alerta que poderão ser utilizados pelo médico para
identificar o autismo em uma criança, por exemplo.
quinta-feira, 17 de abril de 2014
Um Só Mundo - Documentário Autismo
"...O mundo precisa aprender a ser um lugar melhor para os autistas."
segunda-feira, 31 de março de 2014
Dia Mundial de Conscientização Sobre
o Autismo
A Organização
das Nações Unidas (ONU) declarou 02 de abril como o Dia Mundial de
Conscientização sobre o Autismo. O interesse pelo autismo cresceu muito nos
últimos anos. A mídia colaborou muito para isso e a pressão que os pais
começaram a exercer em cima da comunidade médica trouxe avanços significativos.
O termo "autismo" vem do grego "autos" e significa o
comportamento de voltar-se para si mesmo. É classificado hoje como um distúrbio
do desenvolvimento. Suas causas ainda são desconhecidas, mas prevalece a
hipótese multifatorial - suas causas seriam múltiplas e não necessariamente a
mesma para duas pessoas.
Caracteriza- se como um prejuízo
severo e invasivo em diversas áreas do desenvolvimento: habilidades de
interação social recíproca, habilidades de comunicação e a presença de
comportamento, interesses e atividades estereotipados e repetitivas.
Em relação à comunicação, há um
atraso no balbucio, uma falta de linguagem alternativa compensatória desta
criança para substituir a fala, a ausência de atitudes e gestos sociais. Na
integração social, há um déficit ou uma ausência no contato visual e ausência
na reciprocidade. Apresentam comportamentos repetitivos com reações sensoriais
pouco comuns de anestesia sensorial ou hiperestesia (grande sensibilidade ao
toque).
A intervenção precoce é fundamental para
um bom prognóstico. Os tratamentos recomendados atualmente são específicos para
cada caso e orientados por equipe multiprofissional. O tratamento farmacológico
depende dos sintomas que a criança apresenta.
Em termos psicoterápicos tem se
mostrado importante o treinamento em habilidades sociais com a criança e
orientação e apoio aos pais. Outros profissionais que podem contribuir para o
tratamento são: psicólogo, terapeuta ocupacional, fonoaudiólogo, nutricionista,
arte-terapeuta, psicopedagogo, fisioterapeuta entre outros.
Outro processo importante para
o bom desenvolvimento da criança tem sido a prática de inclusão escolar. Nos
casos das crianças com maior comprometimento, o acompanhamento é realizado em
escolas especiais (por exemplo, as APAES).
Independente do tratamento adotado, é
importante que a sociedade como um todo aprenda a perceber a criança autista
com um criança qualquer: com desejos, expectativas, potencialidades e sentimentos
de forma a eliminar preconceitos e garantir o desenvolvimento e integração
desses crianças.
No mundo a
OMS (Organização Mundial da Saúde) estima que tenhamos 70 milhões de pessoas
com autismo. No Brasil, a estimativa é de 2 milhões de autistas.
A APAE de Itabira atualmente
possui 5 salas com 31 alunos com Transtorno Do Espectro Autista – TEA, que caracteriza-se
por prejuízo severo e invasivo em diversas áreas do desenvolvimento:
habilidades de interação social recíproca, de comunicação e atividades estereotipadas.
Trabalha-se com material adaptado e uso dos Métodos TEACCH (o
objetivo deste programa é promover a adaptação de cada criança de duas formas
interatuantes: a primeira é melhorar todas as habilidades para o viver através
das melhores técnicas educacionais disponíveis; a segunda ,na medida em que
existe um déficit envolvido, entender e aceitar esta deficiência, planejando
estruturas ambientais que possam compensá-la) e o Método PECS (foi
criado para atender às necessidades de indivíduos com alterações da
comunicação). As salas contam com a professora e uma monitora dentro de cada
sala e possui uma equipe multidisciplinar (psicóloga, terapeuta ocupacional,
fisioterapeuta, pedagoga e fonoaudióloga) com coordenação da psicóloga France
Jane Leandro. Estamos também iniciando a introdução do Programa LIVOX, este
ano, que é um software de comunicação alternativa, para tablets.
É grande o impacto nos
profissionais da educação que atuam na escola quando se deparam com as
reações dessas crianças que, tanto quanto os professores, estão
diante de uma experiência nova. É comum que essas crianças apresentem
manifestações de sua inflexibilidade de maneira exacerbada.
Se utilizarmos os subsídios teóricos
que se trabalha nas escolas especiais, como o Método TEACCH, PECS,
ABA, será mais fácil compreender que, no ambiente escolar, com todos
os seus estímulos e vendo-se em meio a muitas outras crianças, a
tantas falas e atitudes das outras pessoas que, aliás, não lhe são familiares,
a criança reaja assim.
Apesar das iniciativas do MEC, a
realidade mostra que alunos autistas ainda encontram dificuldades para acessar
e se manter na escola. É necessário o aprofundamento dos esforços
conjuntos das instâncias de governos, famílias, instituições representativas e
de atendimento especializado para superar essas barreiras.
A APAE de Itabira/MG, no dia 2 de
abril, quarta-feira (de 8:00 às 10:30 da manhã e 13:00 às 15:30), estará na Av.
João Pinheiro com Rua São José, com seus alunos, familiares e profissionais,
panfletando e conscientizando sobre o autismo. Contamos com a comunidade e
pedimos que se junte a nós e abrace esta causa.
APAE: Funcionários, alunos e familiares, panfletando - 02 de abril 2014
APAE: Funcionários, alunos e familiares, panfletando - 02 de abril 2014
domingo, 30 de março de 2014
Número de crianças com autismo aumenta 30% em 2 anos nos EUA
Uma em cada
68 crianças americanas tem autismo, de acordo com as estimativas reveladas
nesta quinta-feira (27) pelas autoridades de saúde dos Estados Unidos, o que
representa um aumento de 30% em comparação com os números anteriores,
divulgados em 2012.
Há dois
anos, uma em cada 88 crianças sofria transtornos do espectro autista, segundo o
informe dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) do governo
americano.
Segundo a
agência Reuters, os pesquisadores do CDC afirmaram que as informações foram
obtidas por meio da análise de crianças de 11 comunidades e podem não
representar toda a população nacional. Eles também não investigaram por que as
taxas subiram tanto, mas há algumas pistas. Neste último relatório, quase
metade das crianças identificadas como autistas tinham QI médio ou acima da
média. Há uma década, somente um terço das crianças identificadas como autistas
estavam nessa situação.
“Pode ser
que os médicos estejam ficando melhores em identificar essas crianças; pode ser
que exista um número crescente de crianças com autismo com habilidades
intelectuais mais altas, ou pode ser uma combinação de melhores diagnósticos
com aumento da prevalência”, disse Coleen Boyle, diretora do Centro Nacional de
Defeitos Congênitos e Deficiências de Desenvolvimento do CDC.
Alguns
especialistas acreditam que as taxas mais altas refletem o fato de que pais,
médicos e professores estão prestando mais atenção no autismo, o que resultaria
em mais crianças sendo diagnosticadas com o distúrbio.
Para o
estudo, foram avaliados histórico médico, escolar e outros registros de
crianças de 8 anos de 11 comunidades americanas para determinar se elas tinham
autismo.
O relatório aponta que a distribuição geográfica do número de crianças autistas é irregular: enquanto uma a cada 175 crianças no Alabama tem a doença, em Nova Jersey, o distúrbio foi identificado em uma a cada 45 crianças.
O relatório aponta que a distribuição geográfica do número de crianças autistas é irregular: enquanto uma a cada 175 crianças no Alabama tem a doença, em Nova Jersey, o distúrbio foi identificado em uma a cada 45 crianças.
De acordo
com esses números, o autismo é quase cinco vezes mais comum em meninos do que
meninas. Entre os meninos, um a cada 42 são afetados e, entre as meninas, uma a
cada 189 são afetadas. A pesquisa também concluiu que há mais crianças brancas
do que negras ou hispânicas afetadas pelo autismo.
Segundo a
pesquisa, a maioria das crianças com autismo são diagnosticadas depois dos 4
anos de idade, embora a síndrome possa ser detectada a partir dos 2 anos.
“Temos que fazer mais para diagnosticar crianças antes”, diz Coleen. “A
detecção precoce do autismo é a ferramenta mais eficaz que temos para fazer a
diferença na vida dessas crianças”, garante.
quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014
Os maiores cérebros do mundo
As mentes mais extraordinárias da Terra pertencem a pessoas
que mal conseguem falar ou calçar os próprios sapatos. Conheça os savants - e o
que eles podem nos ensinar sobre os limites da inteligência humana
por Reinaldo José Lopes
Kim Peek lê um livro de 300 páginas em 40 minutos. Uma página
com cada olho. Esse americano de 57 anos já leu 9 mil livros, o que dá mais ou
menos um a cada dois dias desde a infância. E com uma diferença em relação a
você: ele não esquece nada do que leu. Kim sabe de cor a história de todos os
países, seus presidentes, quando eles nasceram, quem foram as esposas deles...
Recita qualquer trecho da Bíblia, do Alcorão ou da estrutura de um ônibus
espacial.
E tudo isso é pouco perto do que o britânico Daniel Tammet
faz. Ele simplesmente inventou uma matemática particular. Pergunte para Daniel
quanto é, digamos, 27 elevado à 5ª potência. Ele vai responder rapidinho que
isso dá 10 460 353 203. Só que sem ter feito uma conta nem decorado nada. Os
resultados surgem por mágica na cabeça desse inglês tímido de 29 anos. E ele
não é incrível só com números. A rede americana de TV PBS o desafiou a aprender
islandês, uma língua que até quem nasceu na Islândia acha complicada, em uma
semana. Sete dias depois, Daniel estava num talk show em Reykjavik contando que
o idioma deles era “mjög fallegur” (“muito bonito”) – era a 11a das línguas que
ele aprendia a falar fluentemente.
Daniel e Kim, diga-se, têm outra coisa em comum além desses
superpoderes: os dois são deficientes mentais, diagnosticados como autistas.
Kim mal consegue falar, não sabe abotoar a camisa e, quando criança, lhe
recomendaram internação para o resto da vida. Daniel é mais comunicativo, um
rapaz bem simpático até, mas se sente perturbado quando anda em ruas
movimentadas e é tão desligado que não consegue pegar um ônibus sem se perder.
E eles não são únicos. Isso de combinar algum problema mental com brilhantismo,
ou até genialidade, em certas áreas, é conhecido como síndrome de savant
(“sábio”, em francês), uma condição raríssima que desafia as idéias sobre como
a mente funciona.
Afinal, ninguém deveria ser capaz de decorar com precisão a
quantidade de informações que os savants (vamos chamá-los assim, daqui para a
frente) conseguem acessar sem o menor esforço em seus “discos rígidos”
cerebrais. Também não parece fazer sentido a maneira como muitos deles lidam
com a matemática: fazer contas gigantes é, para eles, uma atividade não
consciente, como andar de bicicleta. E se pessoas com inteligência e
habilidades sociais normais aprendessem como fazer isso? Será que todo mundo
tem um “savant adormecido” dentro do próprio cérebro? É o que veremos a seguir.
Idiotas sábios
A primeira descrição que temos do savantismo foi feita em
1887 por John Langdon Down, psiquiatra britânico mais conhecido por ter feito
também o primeiro relato científico sobre a síndrome de Down. Uma das
principais experiências de Down com savants envolveu um paciente que conseguia
recitar de cabeça o livro O Declínio e Queda do Império Romano, um catatau de 6
volumes. Down batizou os portadores do problema de “idiotas savants” (calma, na
época “idiota” era um termo técnico).
Alguma forma extraordinária de memorização parece estar por
trás de todos os casos de savantismo, mas é bom qualificar essa afirmação:
trata-se de uma memória diferente da que você usaria para decorar um número de
telefone, por exemplo. Parece envolver pouco pensamento consciente e, muitas
vezes, nem exige compreensão do que está sendo decorado. Darold Treffert,
psiquiatra da Universidade de Wisconsin em Madison (EUA), relata o caso de dois
gêmeos americanos com dano cerebral congênito, George e Charles, que não
conseguiam fazer contas de somar simples, mas se divertiam gritando um para o
outro números primos (os que só são divisíveis por 1 e por eles mesmos) de 20
dígitos, da ordem de quintilhões. Em comparação, a sua memória só consegue
lidar com 7 ou 8 algarismos. É inconcebível fazer operações mentais conscientes
com números desse tamanho.
George e Charles, assim como Kim Peek e vários outros
savants, também eram calculadores de calendário. Se você disser a Peek em que
dia do mês e ano nasceu, ele responde imediatamente com o dia da semana em que
você veio ao mundo.
O preço que se paga para ser um savant é alto. Em geral,
esses indivíduos são 10% dos autistas, ou uma a cada 2 mil pessoas que sofreram
algum dano no cérebro ou nasceram com retardo mental. Uma grande exceção é
justamente Daniel Tammet, diagnosticado com síndrome de Asperger, uma forma moderada
de autismo – o portador tem boa capacidade verbal, embora normalmente seja um
desastre social.
Além de ser um savant, Tammet também tem sinestesia, uma
forma rara de percepção que faz o cérebro misturar sentidos – sons podem ter
cores associadas a eles, por exemplo. E isso torna a mente do rapaz ainda mais
fascinante. A sinestesia dele é numérica. Ele afirma que todos os números de 0
a 10 mil possuem formas visuais específicas e até personalidades, como se
fossem indivíduos mesmo. “O 11 é amigável, o 5 é barulhento e o 4 é meu número
favorito, porque é quieto e tímido como eu”, conta Tammet em sua autobiografia.
O britânico também reconhece todos os números primos até 9
973 porque eles lhe parecem “redondos e lisos, como os seixos numa praia”. Ao
fazer multiplicações enormes, seu tipo favorito de contas, Tammet visualiza as
tais formas dos números que estão sendo multiplicados lado a lado, separados
por um espaço. Essa brecha entre os números tem exatamente o formato do produto
da multiplicação: basta ele preenchê-la para que ele saiba, em poucos segundos,
a resposta certa (veja aqui ao lado).
O neurocientista Vilayanur Ramachandran, do Centro de Estudos
do Cérebro de San Diego, testou as formas numéricas de Tammet, pedindo que ele
as moldasse usando massinha de modelar e, no dia seguinte, que as refizesse. O
resultado foi consistente, ou seja, o rapaz associa sempre a mesma forma ao
mesmo número. O inesperado nas capacidades de Tammet é que as pessoas normais
tendem a pensar nos números como abstrações puras, enquanto ele os transformou
em objetos altamente concretos, coisas tão fáceis de entender intuitivamente
quanto um cachorro ou um gato. Esse pode ser um segredo da inteligência savant,
de acordo com Darold Treffert. A memória que mais usamos para atividades
intelectuais é a consciente, que nos ajuda a lembrar se “espaço” se escreve com
s ou cê-cedilha. Mas há outro tipo importantíssimo de memória: a implícita –
aquela que nos permite trocar as marchas do carro sem pensar.
Você pode ser um savant
Ao que parece, os danos mentais que os savants têm os deixam
sem acesso a grande parte da memória consciente. Então seu cérebro simplesmente
transfere as funções dela para a implícita. E eles fazem automaticamente coisas
que temos de pensar (e muito) para fazer. É uma capacidade não muito diferente
de reconhecer um rosto. Nós nunca precisamos de uma descrição verbal da cara de
um amigo para determinar que ele é o Paulo, e não o José: nosso cérebro
simplesmente sabe. Para Tammet, os números funcionam assim. E talvez você seja
mais parecido com ele do que imagina.
É o que pensa o neurologista Allan Snyder, da Universidade de
Sydney. Para ele, existe um Daniel Tammet dentro da sua cabeça. Esse “savant
interior”, segundo o autraliano, foi quem fez você aprender a falar. Se você se
mudar para a islândia e tiver um filho lá, terá uma criança bilíngüe em casa.
Ela vai aprender português em casa e islandês na escola, e falar os dois
idiomas. Você pode até aprender a língua local, mas nunca terá a fluência do
seu filho.
Essa habilidade mágica de “sugar” um idioma existe apenas na
infância porque a mente vai “calejando” com o tempo. Por exemplo: Qem lê um
txto scrito dste jto consegue entender a frase porque o cérebro criou padrões
para cada uma dessas palavras. Com os sons de um idioma estranho é o contrário:
sua mente está tão calejada com o português que decifrar novas línguas de
ouvido não é fácil. Já os savants não teriam esse problema. Para Snyder, os
danos físicos no cérebro deles impedem que esses calos mentais apareçam. Daí a
capacidade de aprender islandês em uma semana.
E a coisa mais maluca aqui é que Snyder quer fazer com que
esse savant que um dia esteve na sua cabeça apareça de novo para dar um oi.
Como? Aplicando ímãs no crânio. A idéia é “desligar” temporariamente partes da
massa cinzenta a fim de simular os danos que os savants têm no cérebro. E assim
fazer com que você veja o mundo como se fosse um deles. E não é que deu certo?
Snyder fez com que pessoas submetidas ao experimento “virassem savants” por
algum tempo, desenhando de forma mais precisa ou encontrando com mais
facilidade erros de digitação que o cérebro das pessoas normais costuma
ignorar. E o australiano vai mais longe. Ele acredita que novas versões de
experiências como essas poderiam despertar a criatividade de gente comum.
Afinal, por alguns minutos, poderíamos absorver informações em estado bruto,
sem o filtro dos padrões mentais. Aí seria possível usar isso para desafiar
idéias preconcebidas e inovar.
Como, aliás, inovaram dois savants famosos: Isaac Newton e
Albert Einstein. Não, não existe prova nenhuma de que eles portavam essa
condição. Mas alguns neurologistas acham que os dois apresentavam, sim, pelo
menos alguns sintomas da síndrome de Asperger – principalmente inabilidade
social e obsessões compulsivas. De fato, Newton mal abria a boca e ficava
imerso no trabalho a ponto de não comer. E Einstein, que se comportava como um
autista até os 7 anos, repetindo frases sem parar, era tão desligado que certa
vez não percebeu um terremoto enquanto divagava. Talvez nunca saibamos se eles
eram ou não versões moderadas de Daniel Tammet. Mas Einstein pode ter deixado
uma pista: “Uso sinais, imagens mais ou menos claras, como ferramentas para
pensar. Elas se encaixam sozinhas, voluntariamente. Esse jogo de combinações me
parece mais essencial que construções lógicas com palavras”. Foi o que disse
certa vez o alemão. Qualquer semelhança disso com o que você leu nestas páginas
talvez não seja mera coincidência.
Fonte: Revista Superinteressante
Fonte: Revista Superinteressante
segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014
Cuerdas Subtitulado de Pedro Solís García - Fazendo a Diferença
"Somos pela diferença
Respeitando a diferença
Permitindo a diferença
Até que a diferença
Não faça mais diferença"
de Elias Ângelo (ex aluno APAE
Itabira)
domingo, 23 de fevereiro de 2014
Geração tédio
Fevereiro/2014
Clarice Kunsch |
Edição 202
Pesquisa realizada pela psicóloga e pedagoga Clarice Kunsch mostra que
as crianças podem ficar apáticas se forem excessivamente controladas pelos pais
(e professores) e enfrentarem uma agenda cheia de atividades
Marina Kuzuyabu
A falta de encantamento e iniciativa de algumas
crianças sempre chamou a atenção da psicóloga e pedagoga Clarice Krohling
Kunsch. Professora de uma escola particular infantil de São Paulo (SP), a
profissional resolveu encarar a questão e investigar as raízes do problema. Seu
palpite inicial era de que o excesso de bens materiais estaria causando essa
falta de interesse generalizada, que ela também chama de “tédio existencial”.
Sua pesquisa acabou rendendo uma tese de mestrado, defendida em 2013 no
Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (USP).
Por meio de observações e entrevistas realizadas
com pais e crianças de 5 a
7 anos, a pesquisadora concluiu que, na verdade, a apatia está relacionada com
o excesso de controle dos pais sobre seus filhos e com a agenda saturada de
atividades enfrentada desde cedo pelos pequenos. Acostumados a cumprir uma
rotina puxada – que começa cedinho na escola e se estende até o final da tarde
em uma academia ou instituto de esportes, línguas, artes, etc. – e a obedecer a
ordens sobre o que fazer e como fazer a todo o momento, os jovens alunos vão,
aos poucos, perdendo a iniciativa e deixam de reagir naturalmente.
Na escola, as crianças podem até “travar”, deixando
de assimilar conteúdos e de responder prontamente a questões por receio de
errar, como explica Clarice na entrevista que segue. “Estou falando de uma
minoria, mas é uma minoria que, do meu ponto de vista, não deveria existir”,
especifica. Clarice também fala sobre os impactos de se adiantar conteúdos na
Educação Infantil e sobre a expectativa exagerada dos pais em relação ao futuro
de seus filhos.
Como se deu o processo de
realização do estudo? Com quantas crianças você trabalhou e qual era o perfil
delas?
Fui para uma escola particular de nível socioeconômico alto, em São Paulo, e convidei todos os alunos com idades entre 5 e 6 anos para participar. Das 40 solicitações enviadas às famílias, tive retorno de apenas nove. Para ampliar o universo pesquisado, estendi o convite aos alunos da 1ª série do ensino fundamental, que têm idades entre 6 e 7 anos. No total, entrevistei 30 crianças e 14 pais. Na abordagem com os adultos, investiguei como era a rotina de seus filhos, quais eram os hábitos de consumo da família, como aproveitavam os finais de semana, que tipos de viagens realizavam, como comemoravam as datas de aniversários, enfim, qual era o perfil de consumo deles. Em um segundo momento, parti para um levantamento a respeito dos sentidos que a família atribuía a determinadas coisas, quais eram as expectativas em relação ao futuro dos filhos e como eles percebiam a criança em casa.
E como foi o contato com as crianças? Como elas contribuíram com sua pesquisa?
Tinha planejado ouvir apenas os pais, mas depois percebi que seria interessante também escutar a criança para ter o ponto de vista delas. As entrevistas foram mais simples, mas, da mesma forma, procurei saber o que elas faziam fora da escola e quais eram seus interesses. A pesquisa também foi feita com base em observações dos alunos dentro da rotina escolar.
Fui para uma escola particular de nível socioeconômico alto, em São Paulo, e convidei todos os alunos com idades entre 5 e 6 anos para participar. Das 40 solicitações enviadas às famílias, tive retorno de apenas nove. Para ampliar o universo pesquisado, estendi o convite aos alunos da 1ª série do ensino fundamental, que têm idades entre 6 e 7 anos. No total, entrevistei 30 crianças e 14 pais. Na abordagem com os adultos, investiguei como era a rotina de seus filhos, quais eram os hábitos de consumo da família, como aproveitavam os finais de semana, que tipos de viagens realizavam, como comemoravam as datas de aniversários, enfim, qual era o perfil de consumo deles. Em um segundo momento, parti para um levantamento a respeito dos sentidos que a família atribuía a determinadas coisas, quais eram as expectativas em relação ao futuro dos filhos e como eles percebiam a criança em casa.
E como foi o contato com as crianças? Como elas contribuíram com sua pesquisa?
Tinha planejado ouvir apenas os pais, mas depois percebi que seria interessante também escutar a criança para ter o ponto de vista delas. As entrevistas foram mais simples, mas, da mesma forma, procurei saber o que elas faziam fora da escola e quais eram seus interesses. A pesquisa também foi feita com base em observações dos alunos dentro da rotina escolar.
Você conta que percebia um
desinteresse por parte de algumas crianças durante as atividades realizadas na
escola. Como você entendia esse problema antes da investigação que realizou?
Quando comecei minha pesquisa, acreditava que o problema era o consumismo, o excesso de bens. Como muitas crianças de hoje têm de tudo, achava que o mundo estava se tornando desinteressante para elas por essa razão. Mas conforme avancei nas entrevistas e nas observações na escola, fui percebendo que a criança pode ter muita coisa e se relacionar com aquilo de forma saudável. Hoje vejo que o problema está na maneira como a vida é consumida. Vejo um número cada vez maior de famílias encarando os filhos como um projeto. Outro dia escutei uma mãe dizer: “pago escola, psicopedagogo, fonoaudiólogo e meu filho não melhora as notas”. Mas ele não é uma mercadoria ou um projeto que você desenvolve dentro de uma empresa e que se fizer tudo certo ele será bem-sucedido.
Quando comecei minha pesquisa, acreditava que o problema era o consumismo, o excesso de bens. Como muitas crianças de hoje têm de tudo, achava que o mundo estava se tornando desinteressante para elas por essa razão. Mas conforme avancei nas entrevistas e nas observações na escola, fui percebendo que a criança pode ter muita coisa e se relacionar com aquilo de forma saudável. Hoje vejo que o problema está na maneira como a vida é consumida. Vejo um número cada vez maior de famílias encarando os filhos como um projeto. Outro dia escutei uma mãe dizer: “pago escola, psicopedagogo, fonoaudiólogo e meu filho não melhora as notas”. Mas ele não é uma mercadoria ou um projeto que você desenvolve dentro de uma empresa e que se fizer tudo certo ele será bem-sucedido.
Hoje se discute muito que as
crianças não têm limites. Mas sua pesquisa mostra justamente o contrário: que
há excesso de limites.
Realmente há mais limites. As crianças estão cada vez mais institucionalizadas, envolvidas em atividades dirigidas por outro adulto. Isso acontece porque, em várias famílias, tanto o pai como a mãe trabalham fora. Muitas vezes, eles não têm um profissional de confiança para cuidar de seu filho depois que ele volta da escola e aí acabam mandando-o para um clube ou para uma escola de idiomas, por exemplo, porque sabem que naquele local ele estará seguro. Assim, ele fica sob a intermediação de um adulto o dia inteiro. É claro que uma criança precisa disso. Isso é necessário para a integridade, para a segurança física dela. Mas o problema é que ela fica o tempo todo ouvindo o que fazer. Em casa não é diferente: alguns pais determinam qual é a hora de brincar, de desenhar, etc. Tem muito pai e mãe supercontrolador e superprotetor.
Realmente há mais limites. As crianças estão cada vez mais institucionalizadas, envolvidas em atividades dirigidas por outro adulto. Isso acontece porque, em várias famílias, tanto o pai como a mãe trabalham fora. Muitas vezes, eles não têm um profissional de confiança para cuidar de seu filho depois que ele volta da escola e aí acabam mandando-o para um clube ou para uma escola de idiomas, por exemplo, porque sabem que naquele local ele estará seguro. Assim, ele fica sob a intermediação de um adulto o dia inteiro. É claro que uma criança precisa disso. Isso é necessário para a integridade, para a segurança física dela. Mas o problema é que ela fica o tempo todo ouvindo o que fazer. Em casa não é diferente: alguns pais determinam qual é a hora de brincar, de desenhar, etc. Tem muito pai e mãe supercontrolador e superprotetor.
Como você apontou, esse
excesso de atividades extracurriculares está relacionado com o estilo de vida
moderno das grandes cidades. Considerando que essa é a realidade de muitas
famílias brasileiras, como contornar o problema?
Sempre falo para os pais: não é a vida da criança que determina a realidade familiar, mas o contrário. Se os dois trabalham, é necessário se adaptar, claro. Mas é preciso investigar o que está motivando os pais quando colocam seus filhos para fazer uma atividade. É por segurança? Competição? Expectativa? Entre os pais hoje há uma expectativa muito grande para criar os gênios do futuro, os próximos presidentes de empresas. Então, esses pais vão procurar aulas de mandarim, por exemplo, porque dizem que essa é a língua do futuro. Mas isso é uma previsão, ninguém sabe ao certo qual será a demanda para isso. Também existe uma competição entre as famílias, que não é escancarada, mas está ali. Os pais veem que o coleguinha do filho está fazendo uma atividade e logo pensam que deveriam colocar o deles para também fazer alguma coisa. Então, reforço, é preciso ver quais são os valores que estão permeando essas decisões e ficar atento às reações da criança. Tem criança que aguenta uma batelada de coisas, mas tem criança que não. É preciso respeitar o limite de cada um.
E como o tédio se manifesta a partir dessa situação? Quais são as consequências disso?
Por estarem o tempo todo fazendo alguma coisa, com alguém por perto controlando, as crianças ficam sem saber o que fazer quando se veem sozinhas, à toa. Cada vez mais você encontra crianças que perguntam “agora brinco do quê?, agora faço o quê?”. Mas como isso é possível, não saber o que fazer na própria casa? Crianças saudáveis do ponto de vista mental e físico se envolvem com qualquer coisa. Mas os jovens com sinais de tédio precisam de um empurrãozinho; não têm criatividade e espontaneidade, características que considero fundamentais na infância. É claro que tem aquele tédio comum, que acontece quando você está na fila do banco, no aeroporto ou em qualquer outra situação sem fazer nada. Mas tem aquele tédio existencial que é mais profundo. É um pouco exagerado falar assim, mas vejo tédio na criança quando ela não se interessa por nada e fica esperando alguém que traga ideias, que diga o que fazer.
Sempre falo para os pais: não é a vida da criança que determina a realidade familiar, mas o contrário. Se os dois trabalham, é necessário se adaptar, claro. Mas é preciso investigar o que está motivando os pais quando colocam seus filhos para fazer uma atividade. É por segurança? Competição? Expectativa? Entre os pais hoje há uma expectativa muito grande para criar os gênios do futuro, os próximos presidentes de empresas. Então, esses pais vão procurar aulas de mandarim, por exemplo, porque dizem que essa é a língua do futuro. Mas isso é uma previsão, ninguém sabe ao certo qual será a demanda para isso. Também existe uma competição entre as famílias, que não é escancarada, mas está ali. Os pais veem que o coleguinha do filho está fazendo uma atividade e logo pensam que deveriam colocar o deles para também fazer alguma coisa. Então, reforço, é preciso ver quais são os valores que estão permeando essas decisões e ficar atento às reações da criança. Tem criança que aguenta uma batelada de coisas, mas tem criança que não. É preciso respeitar o limite de cada um.
E como o tédio se manifesta a partir dessa situação? Quais são as consequências disso?
Por estarem o tempo todo fazendo alguma coisa, com alguém por perto controlando, as crianças ficam sem saber o que fazer quando se veem sozinhas, à toa. Cada vez mais você encontra crianças que perguntam “agora brinco do quê?, agora faço o quê?”. Mas como isso é possível, não saber o que fazer na própria casa? Crianças saudáveis do ponto de vista mental e físico se envolvem com qualquer coisa. Mas os jovens com sinais de tédio precisam de um empurrãozinho; não têm criatividade e espontaneidade, características que considero fundamentais na infância. É claro que tem aquele tédio comum, que acontece quando você está na fila do banco, no aeroporto ou em qualquer outra situação sem fazer nada. Mas tem aquele tédio existencial que é mais profundo. É um pouco exagerado falar assim, mas vejo tédio na criança quando ela não se interessa por nada e fica esperando alguém que traga ideias, que diga o que fazer.
A criança deve então ser
deixada sozinha mais vezes? Por que é importante dar esse espaço para elas?
O adulto tem de estar presente, mas estar presente não significa estar ao lado. A mãe pode estar no quarto e a criança na sala brincando. Não precisa estar junto, vigiando. Brincar é um processo que se aprende, que precisa da mediação de alguém no começo, mas depois a criança deve ser deixada sozinha para enfrentar o desafio de fazer aquilo de forma independente. Isso favorece a criatividade, a espontaneidade e também a fantasia. Para uma criança, um carrinho não é só um carrinho. Aquilo pode voar para ela. Mas dependendo de quem fizer a mediação, essa fantasia pode ir por água abaixo. Como o adulto tem a tendência de apresentar as coisas mais prontas, a possibilidade de a criança fazer suas próprias descobertas é eliminada nesse contato. E hoje tem alunos pequenos que já perderam a capacidade de fantasiar. Você mostra um bichinho de pelúcia e eles não veem nada além daquilo. Então me pergunto: para onde está indo esse encantamento? É esperado que a escola fique muito chata mesmo nesse contexto.
O adulto tem de estar presente, mas estar presente não significa estar ao lado. A mãe pode estar no quarto e a criança na sala brincando. Não precisa estar junto, vigiando. Brincar é um processo que se aprende, que precisa da mediação de alguém no começo, mas depois a criança deve ser deixada sozinha para enfrentar o desafio de fazer aquilo de forma independente. Isso favorece a criatividade, a espontaneidade e também a fantasia. Para uma criança, um carrinho não é só um carrinho. Aquilo pode voar para ela. Mas dependendo de quem fizer a mediação, essa fantasia pode ir por água abaixo. Como o adulto tem a tendência de apresentar as coisas mais prontas, a possibilidade de a criança fazer suas próprias descobertas é eliminada nesse contato. E hoje tem alunos pequenos que já perderam a capacidade de fantasiar. Você mostra um bichinho de pelúcia e eles não veem nada além daquilo. Então me pergunto: para onde está indo esse encantamento? É esperado que a escola fique muito chata mesmo nesse contexto.
Quais são os impactos desse
desinteresse no desenvolvimento das crianças e, principalmente, no aprendizado?
Entrevistei uma criança que tinha uma agenda muito lotada. Conversando com seus professores, eles relataram que ela “trava”. É tanto conteúdo que ela não consegue administrar. Pode surgir também insegurança. O aluno só se expressa quando tem certeza do que está falando, o que é ruim para a sua espontaneidade. Isso está relacionado à expectativa dos pais. Ele sente essa pressão e fica com medo de falhar. Esse sentimento começa a “atropelar” o seu desenvolvimento e a coisa deixa de fluir.
Entrevistei uma criança que tinha uma agenda muito lotada. Conversando com seus professores, eles relataram que ela “trava”. É tanto conteúdo que ela não consegue administrar. Pode surgir também insegurança. O aluno só se expressa quando tem certeza do que está falando, o que é ruim para a sua espontaneidade. Isso está relacionado à expectativa dos pais. Ele sente essa pressão e fica com medo de falhar. Esse sentimento começa a “atropelar” o seu desenvolvimento e a coisa deixa de fluir.
Como essa realidade está se
refletindo nas escolas? Os professores também estão superprotetores e
supercontroladores?
Não sei se é um movimento dos professores, mas volta e meia ficamos sabendo de escolas que estão promovendo brincadeiras na hora do recreio. Acho triste saber que há alunos precisando de alguém para contar histórias, de alguém que ofereça materiais porque senão eles não conseguem brincar, não sabem o que fazer. Acredito que na escola deve haver momento dirigido, que acontece na sala de aula, e também o momento livre para o aluno fazer o que ele quiser, se relacionar com quem quiser, brigar com quem quiser, ficar sozinho... Isso é fundamental. Mas acredito que isso está relacionado às expectativas sociais. As escolas estão respondendo à demanda de alguns pais, que não querem pagar uma escola para deixar seus filhos “apenas” brincando. Também vejo que há uma pressão cada vez maior para que a alfabetização seja antecipada, o que é uma bobagem.
Não sei se é um movimento dos professores, mas volta e meia ficamos sabendo de escolas que estão promovendo brincadeiras na hora do recreio. Acho triste saber que há alunos precisando de alguém para contar histórias, de alguém que ofereça materiais porque senão eles não conseguem brincar, não sabem o que fazer. Acredito que na escola deve haver momento dirigido, que acontece na sala de aula, e também o momento livre para o aluno fazer o que ele quiser, se relacionar com quem quiser, brigar com quem quiser, ficar sozinho... Isso é fundamental. Mas acredito que isso está relacionado às expectativas sociais. As escolas estão respondendo à demanda de alguns pais, que não querem pagar uma escola para deixar seus filhos “apenas” brincando. Também vejo que há uma pressão cada vez maior para que a alfabetização seja antecipada, o que é uma bobagem.
Quais são as consequências
de uma alfabetização antecipada?
A gente sempre brinca: quem, em uma entrevista de emprego, teve de responder com que idade foi alfabetizado? A resposta é mais uma prova de que isso não faz diferença nenhuma. Mas muitas escolas estão mudando o currículo em função dessas demandas do mercado. Os pais, por uma questão de vaidade e competição, também querem uma escola que alfabetize seus filhos aos três, quatro anos. Com isso, muitos conteúdos estão sendo antecipados, mas mais por uma cobrança social. É claro que a criança tem capacidade para aprender, mesmo nessa fase, mas me pergunto: por quê e para quê? Não faz nenhuma diferença ser alfabetizado com 4, 5, 6 ou 7 anos. Mas aquela que foi alfabetizada com 4 ou 5 anos deixou de brincar para aprender a ler e escrever. Mas se ela não brincar, não se sujar nessa fase, não vai ser no ensino fundamental que ela vai fazer isso.
A gente sempre brinca: quem, em uma entrevista de emprego, teve de responder com que idade foi alfabetizado? A resposta é mais uma prova de que isso não faz diferença nenhuma. Mas muitas escolas estão mudando o currículo em função dessas demandas do mercado. Os pais, por uma questão de vaidade e competição, também querem uma escola que alfabetize seus filhos aos três, quatro anos. Com isso, muitos conteúdos estão sendo antecipados, mas mais por uma cobrança social. É claro que a criança tem capacidade para aprender, mesmo nessa fase, mas me pergunto: por quê e para quê? Não faz nenhuma diferença ser alfabetizado com 4, 5, 6 ou 7 anos. Mas aquela que foi alfabetizada com 4 ou 5 anos deixou de brincar para aprender a ler e escrever. Mas se ela não brincar, não se sujar nessa fase, não vai ser no ensino fundamental que ela vai fazer isso.
Durante sua pesquisa, você
também teve tempo de conversar com os professores. Pelo que você notou, eles
também estão atentos ao problema da apatia?
Estão atentos sim. Mas vejo que na avaliação que eles fazem a respeito do problema há muitas crenças envolvidas. Muitos acham que o problema é o uso de equipamentos eletrônicos. Também tem profissionais que acham que as crianças que têm algum tipo de dificuldade são aquelas em quem você percebe mais desinteresse. Mas isso não é verdade. Não dá para pensar que a criança não se interessa tanto porque tem dificuldade ou porque ela só gosta de videogame. Falta às vezes um olhar individual para aquele aluno.
Estão atentos sim. Mas vejo que na avaliação que eles fazem a respeito do problema há muitas crenças envolvidas. Muitos acham que o problema é o uso de equipamentos eletrônicos. Também tem profissionais que acham que as crianças que têm algum tipo de dificuldade são aquelas em quem você percebe mais desinteresse. Mas isso não é verdade. Não dá para pensar que a criança não se interessa tanto porque tem dificuldade ou porque ela só gosta de videogame. Falta às vezes um olhar individual para aquele aluno.
Quais contribuições os
professores podem dar para frear ou reverter o problema?
Acho que se deve começar com uma mudança de olhar para deixar de enxergar aquela criança como alguém adoecido. Depois disso, os professores devem avaliar a rotina dela e aí alertar quem está envolvido com ela. O que os pais vão fazer com a informação não dá para controlar e o professor tem de saber lidar com essa frustração. Mas o importante é nunca deixar de falar, nunca deixar de apontar. Também ressalto que é preciso ter cuidado para não creditar o problema ao excesso de televisão ou de videogame. Esse não é o caminho. Tem de olhar para aquela criança e tentar entender o que está acontecendo verdadeiramente. Em sala de aula, o professor pode orientar suas práticas para criar mais momentos de estímulo à criança que a motivem a participar mais, apresentar soluções, enfim, a se virar. Essa geração que está entrando agora no mercado de trabalho já quer as coisas prontas. Se nada mudar, vai faltar uma reação mais espontânea às demandas lá na frente.
Acho que se deve começar com uma mudança de olhar para deixar de enxergar aquela criança como alguém adoecido. Depois disso, os professores devem avaliar a rotina dela e aí alertar quem está envolvido com ela. O que os pais vão fazer com a informação não dá para controlar e o professor tem de saber lidar com essa frustração. Mas o importante é nunca deixar de falar, nunca deixar de apontar. Também ressalto que é preciso ter cuidado para não creditar o problema ao excesso de televisão ou de videogame. Esse não é o caminho. Tem de olhar para aquela criança e tentar entender o que está acontecendo verdadeiramente. Em sala de aula, o professor pode orientar suas práticas para criar mais momentos de estímulo à criança que a motivem a participar mais, apresentar soluções, enfim, a se virar. Essa geração que está entrando agora no mercado de trabalho já quer as coisas prontas. Se nada mudar, vai faltar uma reação mais espontânea às demandas lá na frente.
Fonte:http://revistaeducacao.uol.com.br/textos/202/geracao-tediopesquisa-realizada-pela-psicologa-e-pedagoga-clarice-kunsch-mostra-304781-1.asp
terça-feira, 4 de fevereiro de 2014
terça-feira, 28 de janeiro de 2014
Infância não é carreira e filho não é troféu
Nesse mundo contemporâneo, ter, ser, saber, parecem fazer
parte de uma competição. Nesse mundo, alguns pais e algumas mães acabam
acreditando que é preciso que seus filhos saibam sempre mais que os filhos de
outros. E isso sim seria então sinal de adequação e o mais importante: de
sucesso.
O que uma criança deve saber aos 4 anos de idade? Essa
foi a pergunta feita por uma mãe, em um fórum de discussão sobre educação de
filhos, preocupada em saber se seu filho sabia o suficiente para a sua idade.
Segundo Alicia Bayer, no artigo
publicado em um conhecido portal de notícias americano – The
Huffngton Post -, o que não só a entristeceu mas também a irritou
foram as respostas, pois ao invés de ajudarem a diminuir a angústia dessa mãe,
outras mães indicavam o que seus filhos faziam, numa clara expressão de
competição para ver quem tinha o filho que sabia mais coisas com 4 anos. Só
algumas poucas indicavam que cada criança possuía um ritmo próprio e que não
precisava se preocupar.
Para contrapor às listas indicadas pelas mães, em que
constavam itens como: saber o nome dos planetas, escrever o nome e sobrenome,
saber contar até 100, Bayer organizou uma lista bem mais interessante para que
pais e mães considerem que uma criança deve saber.
Veja alguns exemplos abaixo:
- Deve saber que a querem por completo, incondicionalmente e em todos os momentos.
- Deve saber que está segura e deve saber como manter-se a salvo em lugares públicos, com outras pessoas e em distintas situações.
- Deve saber seus direitos e que sua família sempre a apoiará.
- Deve saber rir, fazer-se de boba, ser vilão e utilizar sua imaginação.
- Deve saber que nunca acontecerá nada se pintar o céu de laranja ou desenhar gatos com seis patas.
- Deve saber que o mundo é mágico e ela também.
- Deve saber que é fantástica, inteligente, criativa, compassiva e maravilhosa.
- Deve saber que passar o dia ao ar livre fazendo colares de flores, bolos de barro e casinhas de contos de fadas é tão importante como praticar fonética. Melhor dizendo, muito mais importante.
E ainda acrescenta uma lista que considera mais importante. A
lista do que os pais devem saber:
- Que cada criança aprende a andar, falar, ler e fazer cálculos a seu próprio ritmo, e que isso não tem qualquer influência na forma como irá andar, falar, ler ou fazer cálculos posteriormente.
- Que o fator de maior impacto no bom desempenho escolar e boas notas no futuro é que se leia às crianças desde pequenas. Sem tecnologias modernas, nem creches elegantes, nem jogos e computadores chamativos, se não que a mãe ou o pai dediquem um tempo a cada dia ou a cada noite (ou ambos) para sentar-se e ler com ela bons livros.
- Que ser a criança mais inteligente ou a mais estudiosa da turma nunca significou ser a mais feliz. Estamos tão obstinados em garantir a nossos filhos todas as “oportunidades” que o que estamos dando são vidas com múltiplas atividades e cheias de tensão como as nossas. Uma das melhores coisas que podemos oferecer a nossos filhos é uma infância simples e despreocupada.
- Que nossas crianças merecem viver rodeadas de livros, natureza, materiais artísticos e a liberdade para explorá-los. A maioria de nós poderia se desfazer de 90% dos brinquedos de nossos filhos e eles nem sentiriam falta.
- Que nossos filhos necessitam nos ter mais. Vivemos em uma época em que as revistas para pais recomendam que tratemos de dedicar 10 minutos diários a cada filho e prever um sábado ao mês dedicado à família. Que horror! Nossos filhos necessitam do Nintendo, dos computadores, das atividades extraescolares, das aulas de balé, do grupo para jogar futebol muito menos do que necessitam de nós. Necessitam de pais que se sentem para escutar seus relatos do que fizeram durante o dia, de mães que se sentem e façam trabalhos manuais com eles. Necessitam que passeiem com eles nas noites de primavera sem se importar que se ande a 150 metros por hora. Têm direito a ajudar-nos a fazer o jantar mesmo que tardemos o dobro de tempo e tenhamos o dobro de trabalho. Têm o direito de saber que para nós são uma prioridade e que nos encanta verdadeiramente estar com eles.
Então, o que precisa mesmo – de verdade – uma criança de 4
anos?
Muito menos do que pensamos e muito mais!
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