Um caso recente tem intrigado pesquisadores e demais membros da comunidade científica de Santa Cruz do Sul, no Rio Grande do Sul. Uma criança de seis anos, portadora de autismo, passou a se comunicar com seus pais e colegas a partir do momento em que começou a usar um iPad para jogar e aprender conceitos como números e letras do alfabeto.
"O menino realizava trabalhos de cognição com uma aluna minha e não emitia resposta com nenhum dos métodos que utilizamos com outras crianças. A partir do momento em que ele teve contato com o iPad, sua comunicação melhorou consideravelmente, chegando ao ponto de pedir um aparelho similar aos pais para uso em casa", conclui Nize Maria Pellanda, doutora em Ciências da Educação e professora da Universidade de Santa Cruz do Sul.
Segundo a pesquisadora, não estão disponíveis muitas pesquisas sobre a recepção pelos autistas do ruído emitido por tablets, por isso ainda não é possível inferir muito sobre o assunto. "Há evidências de reação no processo cognitivo e até mesmo afetivo dos autistas com os tablets, mas muito pouco foi realmente pesquisado e documentado a respeito", completa Nize.
Tablets: revolução tecnológica na educação
Desde o surgimento do primeiro iPad, em 2010, até a expansão e massificação dos tablets uma revolução tecnológica passou a se desenhar no mundo, influenciando, entre outras áreas, a educação. Em sala de aula, aparelhos como esses, que permitem acesso à internet e dispensam a impressão de livros e cadernos, possibilitam uma atualização constante do material de estudo e aumentam a interatividade entre professores e alunos.
No início de setembro, o ministro da Educação Fernando Haddad anunciou para 2012 a compra de tablets para a utilização em instituições de ensino da rede pública. Ainda não foram divulgados mais detalhes acerca da quantidade, modelo do aparelho e instituições beneficiadas. Por enquanto, a novidade está restrita a poucas instituições privadas, caso das universidades Estácio de Sá (RJ) e UniSeb, de ensino à distância.
Pioneiro no uso de tablets, o Grupo Integral, de Campinas (SP), adota desde o ano passado o gadget no dia a dia dos seus estudantes. Quando o aluno se matricula no Ensino Médio, recebe um iPad, que fica em sua posse até o término do ano, quando é devolvido à escola. Segundo o diretor de uma das unidades do grupo, Ricardo Falco, o feedback positivo veio naturalmente. "O que percebemos nesse ano de trabalho é que os alunos sentem-se mais estimulados à leitura com os aplicativos de jornais e revistas e do material didático no formato digital, além dos portais à sua disposição", resume.
Em países mais desenvolvidos, como nos Estados Unidos, essa mudança já é uma realidade. Em um artigo para o site americano de tecnologia Mashable Tech, Vineet Madan, vice-presidente da McGraw-Hill Higher Education, uma das maiores instituições de produção de material para escolas e universidades do mundo, defendeu a adoção de tablets em ambientes de ensino. "A leitura, por exemplo, se torna muito mais dinâmica para os alunos, integrando áudio, imagem e vídeo. E diversas soluções educacionais do mundo moderno passam pelo conceito de nuvem (modelo no qual as informações e arquivos ficam disponíveis em um cyberespaço), e os tablets estão totalmente alinhados com essa proposta", comenta.
Mas o assunto não traz apenas pontos positivos. Alguns educadores não são tão otimistas em relação aos potenciais benefícios que esses gadgets podem representar. Segundo o psicólogo e professor da Universidade Federal de São Carlos, Celso Goyos, toda a empolgação com o uso de tablets em sala de aula deveria ser redirecionada na qualificação do ensino, uma mudança que, segundo ele, não vai acontecer apenas com a distribuição desses novos aparelhos em sala de aula.
"Por falta de recursos eficazes em educação, diretamente relacionada à escassez de pesquisas que de fato focalizem no problema de ensino e aprendizagem, a sociedade brasileira olha esperançosa para as maravilhas tecnológicas à espera de um milagre também na área de educação", destaca Goyos. Ainda segundo ele, a psicologia experimental tem produzido enormes avanços nessa área ao longo dos últimos 30 anos, mas é uma contínua dificuldade fazer com que esses conhecimentos extrapolem os muros da academia e sejam incorporados em sala de aula.
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