"Não devemos permitir que uma só criança fique em sua situação atual sem desenvolvê-la até onde seu funcionamento nos permite descobrir que é capaz de chegar. Os cromossomos não têm a última palavra". (Reuven Feuerstein)

quinta-feira, 22 de julho de 2010

APRENDER A OLHAR PARA O OUTRO

APRENDER A OLHAR PARA O OUTRO:
Inclusão da Criança com Perturbação
do Espectro Autista na Escola do 1º
Ciclo do Ensino Básico

Ana Cristina F. T. Carvalho
Catarina Teixeira Soares Onofre

Introdução

Ao longo dos últimos anos, no âmbito da filosofia da Escola Inclusiva -Uma escola
para todos-(UNESCO,1994), vem sendo praticada, pelo Ministério da Educação, em
Portugal, a inclusão de crianças com Perturbação do Espectro Autista (P.E.A.1) em
algumas escolas do 1º ciclo do ensino regular e, mais recentemente, tem vindo a ser
realizada, também, no 2º ciclo de escolaridade.

1 Será considerado P.E.A. de forma a abranger o contínuo de manifestações na sua totalidade. Sempre
que se utilizar a palavra Autismo/Autista pretende-se aqui atribuir o mesmo significado.

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Em Algés, na Escola Básica do 1º ciclo Sofia de Carvalho, pertencente ao
agrupamento de Escolas de Miraflores situado no concelho de Oeiras, encontra-se a
funcionar desde Setembro de 2001, uma estrutura de apoio criada, à semelhança de
outras, com o objectivo de fomentar a inclusão de 6 crianças com P.E.A., cujas
idades podem variar desde os 6 até aos 16 anos.

Todas as crianças seleccionadas para este grupo têm de apresentar uma
Perturbação do Espectro Autista independentemente do grau de severidade que
pode variar desde o mais ligeiro até a um mais moderado ou mesmo profundo e/ou
ainda outras coomorbilidades associadas. Cada aluno pertence a uma turma na qual
realiza todas as actividades consideradas essenciais à sua inclusão,
independentemente das suas competências.

Este recurso de apoio possui a denominação de Sala de Recursos TEACCH por
fundamentar a sua intervenção pedagógica nos princípios do Programa TEACCH
(Treatment and Education of Autistc and Related Communication Handicapped
Children) criado para o Autismo, em 1971, por Eric Schopler e seus colaboradores
na Carolina do Norte (EUA) e que vem sendo utilizado, nas últimas décadas em
muitos países, na educação de crianças com Autismo. Este consiste num programa
estruturado que fornece informações claras e objectivas sobre como se deve avaliar,
delinear e implementar uma intervenção elaborada para uma pessoa com Autismo, e
envolve desde o início os pais e todos aqueles que intervêm no seu Processo Psico
educacional. Trata-se de uma metodologia de trabalho que procura fundamentar as
suas estratégias de intervenção nas áreas fortes das pessoas que manifestam
Autismo e que se adequa à forma específica que parece caracterizar a sua maneira
de pensar e de aprender.

Nesta escola existem, anualmente, em média 300/350 crianças distribuídas por 13 a
16 turmas do 1º ao 4º ano de escolaridade e cujas idades variam entre os 6 e os 1012/
13 anos de idade. Nela todos os Recursos Humanos são da responsabilidade do
Ministério da Educação inclusivamente as docentes e a auxiliar de educação da Sala
de Recursos TEACCH que receberam, na fase inicial, formação específica sobre o
Autismo e sobre a metodologia TEACCH, fornecida pela ECAE da zona Centro, em

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Coimbra, local onde surgiram, em Portugal, as primeiras salas a utilizar esta
metodologia.

A Sala de Recursos TEACCH da escola Sofia de Carvalho situa-se na sala 13 e tem
aproximadamente 120 metros quadrados. É bastante luminosa e apresenta uma
exposição solar virada a sul com uma porta de acesso ao exterior para um pequeno
pátio fechado. Funciona sob a orientação de duas docentes especializadas que
realizam diariamente a adopção e aplicação de estratégias de ensino aprendizagem
diversificadas no sentido de desenvolver o trabalho de inclusão que denominaram
“Aprender a olhar para o outro”.

A sua abertura e funcionamento envolveu várias entidades que de uma forma
articulada têm proporcionado os seus recursos. A Direcção Regional de Educação
de Lisboa (D.R.E.L.) coloca anualmente os recursos humanos; a Equipa de
Coordenação de Apoios Educativos de Oeiras (E.C.A.E.) indicou na sua zona a
escola mais adequada para implementar este recurso; a Escola abriu as suas portas
para o receber e às crianças que por ele seriam apoiadas; o Centro de Estudos e
Apoio à Criança e à Família, (C.E.A.C.F.)2 fornece apoio técnico e formação na
intervenção pedagógica em crianças com P.E.A., avalia as crianças e participa em
reuniões com técnicos e pais; a Câmara Municipal de Oeiras forneceu móveis e
verba para equipar a sala, e finalmente mas de extrema importância o envolvimento
de várias entidades privadas, maioritariamente do próprio concelho, que ao abrigo
da Lei do Mecenato vêm financiando desde o inicio a aquisição de materiais
diversificados.

Perturbação do Espectro Autista

Apesar da multiplicidade de estudos existentes e não obstante as variadas e
inúmeras contribuições que vêm sendo feitas desde a década de 40, com o
psiquiatra infantil Leo Kanner (1943) e o pediatra Hans Asperger (1944), várias têm
sido as explicações para a etiologia do Autismo. Não havendo consensos nem
certezas, actualmente sabe-se que na maior parte das vezes a sua origem é
multifactorial, apresentam um substracto neurobiológico e podem coexistir com

2 A técnica do C.E.A.C.F. - Terapeuta da Fala - Carmelina Possacos Mota

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outras perturbações, no entanto em grande número de casos ainda não é possível
determinar quais os factores que desencadeiam um quadro clínico de autismo.

Presentemente as Perturbações do Espectro Autista incluem-se nas Perturbações
Globais do Desenvolvimento e são consideradas perturbações graves e precoces do
neuro-desenvolvimento que não têm cura e persistem ao longo da vida, podendo a
sua expressão sintomática variar. O diagnóstico desta perturbação continua a ser
clínico, ou seja, realizado através de uma avaliação do desenvolvimento expresso
pelo comportamento e, apesar das implicações de subjectividade que isso possa
conter, existem escalas de diagnóstico que permitem hoje uma maior precisão e
precocidade na realização de um diagnóstico. Especificamente no contexto
educativo são consideradas Necessidades Educativas Especiais (N.E.E.) de
carácter permanente.

Ser portador de P.E.A. pode ser altamente incapacitante, caso não se usufrua de
metodologias de intervenção adequadas, pois esta perturbação conduz “a um
padrão caracterizadamente específico de percepção, pensamento e aprendizagem”
(Jorden, 2000:16) que compromete em particular o contacto e a comunicação com o
meio.

Uma pessoa com Autismo tem na maior parte das vezes uma aparência física
normal, no entanto apresenta dificuldades muito específicas em três áreas do seu
desenvolvimento: alteração qualitativa das interacções sociais, da comunicação
verbal e não verbal, padrões repetitivos e estereotipados de comportamento, e
revelam muitas vezes respostas de hipo ou hipersensibilidade a estímulos e ou
outros problemas associados.

De uma forma generalizada a afectação nestas áreas traduz-se na prática em
dificuldades significativas para aprender da forma convencional e pode manifestar-
se, entre outras, por algumas características como falta de motivação, dificuldade na
compreensão de sequências e de consequências, défice cognitivo, dificuldades de
concentração e de atenção, alterações na descriminação/processamento auditivo e
na compreensão de instruções fornecidas oralmente, falta de persistência nas
tarefas, dificuldades em aceitar mudanças e em compreender as regras instintivas

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da interacção social, alterações de sensibilidade à dor, a sons, a luzes ou ao tacto,
grande redução da capacidade imaginativa e de fantasiar, interesses restritos,
alterações de sono vigília, ou particularidades do padrão alimentar.

Descrição da prática desenvolvida e resultados obtidos

Apesar de ser impossível descrever neste espaço tudo aquilo que se realiza nesta
escola com os professores, com as crianças e com as famílias, após 5 anos a
experimentar responder, diária e continuamente, de forma adequada às
necessidades das crianças com P.E.A. através de um ensino estruturado, baseado
na metodologia TEACCH, pensamos poder partilhar esta experiência e algumas
pistas que possam ser inspiradoras para o aumento de respostas de inclusão de
crianças com esta e ou outras perturbações nas escolas do ensino regular. O facto é
que, apenas se mudam atitudes quando se torna evidente que existem vantagens
em mudar e quando as pessoas se envolvem em processos que resultam.

O Ensino Estruturado é um dos métodos pedagógicos mais importantes da
metodologia TEACCH e consiste basicamente num sistema de organização do
espaço, do tempo, dos materiais, e das actividades de forma a facilitar os processos
de aprendizagem e a autonomia das crianças e a diminuir a ocorrência de
problemas de comportamento. É, no entanto, um modelo suficientemente flexível,
pois permite ao técnico encontrar as estratégias mais adequadas de forma a
responder às necessidades de cada criança.

O objectivo central da intervenção pedagógica desta Sala de Recursos TEACCH é o
desenvolvimento de competências de autonomia e a melhoria dos comportamentos
da criança com P.E.A. em casa, na escola, e na comunidade favorecendo a sua
inclusão no maior número de actividades junto dos colegas, da turma a que cada
uma pertence, prevenindo, assim, a sua institucionalização.

Através da criação de situações de ensino estruturado com apoio de estruturas
visuais, de material próprio e de actividades adequadas às suas necessidades
(plásticas, gráficas, lúdicas, didácticas, pedagógicas, …) procura-se potenciar a
motivação destas crianças para explorar e aprender com o objectivo de aumentar os

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tempos de atenção partilhada, de interacção social, de contacto do olhar e de
comunicação através do olhar, desenvolver os tempos de atenção, de concentração
e de interesse pelas actividades propostas e materiais. Manter e aumentar a
capacidade de pegar a vez em actividades motoras e verbais, aumentar a
consistência da resposta em contextos variados, desenvolver a capacidade de
cumprir ordens em diversos contextos e a competência para iniciar, realizar e
terminar tarefas de forma autónoma.

Aqui também se trabalha a linguagem, a comunicação e a interacção de forma
estruturada, assim sempre que é necessário ou possível usa-se o Programa de
linguagem do vocabulário MAKATON3. Este utiliza gestos e símbolos em simultâneo
com a fala e permite desenvolver a comunicação funcional, a estrutura da linguagem
oral e da literacia facilitando o acesso aos significados do e no mundo com os outros

o que proporciona maior disponibilidade para a relação.
Num ambiente no qual a firmeza e o afecto são uma constante essencial fomenta-se
a sua permanência e o convívio com as outras crianças, desenvolvendo um trabalho
sistematicamente articulado, com os docentes e com os colegas da escola e ainda
de extrema importância com as famílias, procurando-se agir em vez de reagir, no
sentido de se alcançar uma integração escolar bem planificada com programas e
serviços adequados que permita oferecer um conjunto de vantagens a todos os
implicados.

Esta articulação é realizada através de reuniões regulares de suporte nas quais se
fornecem informações, se reflecte sobre as conquistas e sobre as dificuldades e se
formulam e reformulam estratégias sempre que necessário, numa permanente
atitude de reforço construtivo. Quem lida com crianças com Autismo experimenta
sucessivas e constantes adaptações, por isso, a colaboração entre todos os
envolvidos (adultos e ou crianças) é de extrema importância, pois permite a redução
de ansiedades e a manutenção de um ambiente calmo entre todos os parceiros e
ainda potencializa os desempenhos de cada interveniente proporcionando o
desenvolvimento de novas competências e promovendo mudanças.

3 Concebido por Margaret Walker, UK; Versão portuguesa 1985, adaptada por Isabel Prata C.E.A.C.F.

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Numa primeira etapa é elaborada, pela técnica do CEACF, a avaliação da criança
com o Perfil Psico Educacional Revisto (PEP-R criado por Eric Schopler). Este
fornece, além do nível de funcionamento em cada área de desenvolvimento, as suas
capacidades emergentes (nem sempre evidentes, surgindo apenas se estimuladas)
e ainda a existência ou ausência de comportamento patológico. Baseado nesta
avaliação e em dados retirados do dia a dia da criança, no contexto escolar e
familiar, é depois realizado um Programa Educativo com objectivos estabelecidos
para ela e a executar através de uma planificação de intervenções individualizadas.

A planificação de intervenções individualizadas é adaptada às suas necessidades
individuais, aos seus diferentes níveis de funcionamento, e centra-se nas suas áreas
fortes (processamento visual, memorização de rotinas e interesses especiais)
utilizando-as como potencializadoras para as restantes áreas.

Com base nesta planificação são implementadas situações de ensino estruturado
com apoio de estruturas visuais e que consistem na organização do espaço, do
tempo, dos materiais e na criação de rotinas. Esta estratégia fornece o tipo e a
quantidade de estrutura que cada uma destas crianças necessita para progredir na
sua aprendizagem e fomenta a sua autonomia, pois as estruturas visuais ensinam e
ajudam a seguir instruções de forma autónoma auxiliando as pessoas com Autismo
a lidar com as mudanças, proporcionando-lhes maior flexibilidade ao seu
pensamento.

A estrutura ou a organização do espaço


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Consiste basicamente na forma de organizar o espaço através da delimitação clara
das diversas áreas de trabalho, fazendo corresponder a cada área uma actividade
específica podendo para tal utilizar-se mobiliário ou outro material que permita tornar
as delimitações claras e diminuir os estímulos distractivos.

Segundo a metodologia TEACCH as ÁREAS DE TRABALHO consideradas básicas
e que existem nesta Sala de Recursos TEACCH são:

(i)
A ÁREA DE TRABALHO 1 A 1 ou O ESPAÇO PARA APRENDER (como
é denominado aqui) e que deve ser protegida de estímulos que possam
ser distractivos e na qual se trabalha individualmente com a criança a
aquisição de novas competências, procurando-se ajuda-la a encontrar
motivação para a aprendizagem através de ajudas físicas,
demonstrativas ou verbais que possibilitem o sucesso e reduzam a
frustração.
(ii)
A ÁREA DE TRABALHO INDEPENDENTE OU AUTÓNOMO onde se
pretende que a criança vá realizando as actividades aprendidas de forma
autónoma centrando-se nos objectivos da actividade (nesta sala existem
5, pois neste momento 2 das crianças já permanecem na sua sala de
aula o dia todo com algumas adaptações dos processos de ensino-
aprendizagem). Nesta área de trabalho existe também um SISTEMA DE
TRABALHO INDIVIDUAL que consiste num plano de trabalho que
fornece à criança informação sobre o que fazer e por que sequência, e
ainda o conceito de começar, realizar e terminar uma actividade
tornando-a capaz de realizar uma tarefa de forma autónoma (o que é de
extrema importância para estas crianças que manifestam pouca
motivação e dificuldade em permanecer atentas de forma a sequenciar
uma actividade).
(iii)
A ÁREA DE LAZER na qual não existem exigências por parte do adulto e
onde a criança pode estar livremente a desenvolver actividades dentro
dos seus interesses, onde normalmente se permitem as estereotipias.
(iv)
A ÁREA DE TRABALHO DE GRUPO na qual se desenvolvem
actividades que promovem e favorecem as interacções sociais.
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(v)
E a ÁREA DE TRANSIÇÃO onde a criança passa quando muda de
área/actividade, e que aqui se encontra junto da área de trabalho
autónomo de cada uma das crianças.
Depois, nesta sala, foram ainda criadas outras áreas que se consideram importantes
dentro das necessidades e capacidades das crianças que se atendem e que, visto a
sala ser ampla, foram possíveis no espaço físico existente:

(i)
Uma ÁREA DE TRABALHO NO COMPUTADOR. A informática é
utilizada para ajudar a ultrapassar dificuldades tanto em termos de
reprodução gráfica como em termos de atenção e de perseverança.
Muitas destas crianças sentem pouca motivação para realizar
aprendizagens e às vezes revelam dificuldades nos desempenhos
motores finos, frequentemente o apelo de um ecrã e de um software
agradável pode ser uma mais valia no trabalho com elas. Também nesta
área se pode aprender a esperar a vez ou a executar uma actividade
partilhada.
(ii)
Uma ÁREA PARA BRINCAR ESTRUTURADO com carrinhos, legos ou
materiais de construção, na qual se procura que aprendam a desenvolver
algumas actividades lúdicas. Aqui neste espaço nos momentos de
intervalos escolares quando a sala está aberta às outras crianças da
escola acontecem brincadeiras criativas e estimulantes que podem servir
de modelo a imitar por estas crianças.
(iii)
Uma ÁREA PARA LEITURA. Muitos dos meninos desta sala gostam de
ver ou de ler livros e contar histórias é extremamente rico para a
construção de um mundo no qual se sequenciam situações.
(iv)
Uma ÁREA PARA REALIZAR ACTIVIDADES DE EXPRESSÃO
PLÁSTICA onde existem materiais diversificados que permitem
desenvolver actividades variadas que possibilitam, entre outras
aquisições, a algumas crianças dessensibilizações de contacto e a outras
desenvolver a sua motricidade fina. Aqui também outras crianças da
escola podem realizar actividades trazendo modelos a partilhar.
(v)
Uma ÁREA COM LAVATÓRIO que possibilita realizar além de
actividades de higiene básicas actividades de relaxamento com água.
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A organização do tempo

A planificação é estruturada visualmente através de HORÁRIOS DE ACTIVIDADES
e de PLANOS DE TRABALHO o que fornece antecipadamente à criança (através de
uma organização externa) informação clara e objectiva sobre o que vai acontecer ao
longo do tempo do dia e em que sequência (antecipar e prever), o que proporciona
um ambiente seguro, calmo e previsível. Como resultado consegue-se compensar a
dificuldade que manifestam em sequenciar e em se manterem organizadas,
diminuindo comportamentos disruptivos aumentando a motivação e melhorando a
capacidade de aceitação a alterações da rotina.

Estes horários ou planos podem ser adaptados a vários níveis de competências
desde os mais acessíveis, que fornecem informação para um período de tempo mais
curto e realizados com objectos, fotos reais ou imagens (nesta sala estão a ser
utilizadas imagens do programa S.P.C.*), criados para crianças com mais
dificuldades, aos mais complexos que podem utilizar símbolos mais abstractos como
palavras e ser elaborados para uma maior duração de tempo. Funcionam de cima
para baixo, ou da esquerda para a direita (por ser o sistema convencional existente
no país), consistindo o mesmo numa rotina securizante à qual estas crianças
aderem rapidamente.

* Software Boardmaker,-Mayer Johnson, versão portuguesa Anditec
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HORÁRIOS DE ACTIVIDADES



PLANOS DE TRABALHO



Com o seu suporte procura-se promover a sistematização do processo de ensino
aprendizagem, a visualização simbólica referenciadora de regras/rotinas da escola e
de condutas sociais associadas à interacção que se procura estabelecer com pares
e adultos da escola.

Para algumas das crianças que conquistaram mais autonomia, neste momento já é
possível fornecer esta referência temporal simplesmente através de um plano do dia
ou de um sumário elaborado no quadro da sala que serve e beneficia toda a turma.
Para elas também já não é necessária uma área de trabalho autónomo, conseguem
estar na sala num lugar como os outros colegas sendo apenas praticadas algumas
alterações/modificações no espaço físico ou em desempenhos do professor.


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Por exemplo, quando o professor fala para o grande grupo chama esse aluno pelo
seu nome e várias vezes para que se mantenha atento; quando pretende que a
criança olhe para alguma informação no quadro procura e certifica-se que este olhe
para o local pretendido; cria determinadas rotinas que mantém diariamente como
escrever o plano do dia sempre no mesmo espaço do quadro, arruma a sala de
forma estruturada; o seu lugar fica perto do quadro sem crianças à sua frente para
que não se distraia, se o aluno necessita de apoio mais directo pode ser importante
ter sempre uma cadeira junto de si, pois assim ele sabe que sempre que precisar o
professor pode sentar-se ali; ao seu lado deve estar sentado um colega com
capacidade de desempenhar o papel de tutor; se existem regras afixadas
(informativas de comportamentos que deve ou não deve ter) estas devem estar
próximas e a criança deve aprender a olhar para elas sempre que o professor
fornecer um sinal combinado, se a criança precisa de incentivos/motivações procura-
se que sejam dentro dos seus interesses e que possam ser compensadoras de
desempenhos pretendidos Em relação a comportamentos disruptivos como, por
exemplo, esteriotipias estas devem ser permitidas mas sempre de forma organizada
e temporizada, no entanto se a criança manifesta dificuldade em aceitar esta gestão
de comportamentos a mesma pode ser realizada com apoio de tabelas de registos
que possam fornecer a informação visual à criança.


A organização dos materiais

A utilização de material pedagógico adequado às necessidades de cada criança é
outro dos procedimentos importantes que se realiza, pois uma criança com Autismo
necessita aprender cada tarefa várias vezes e com material que se apresente

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visualmente de forma estruturada, ou seja, que forneça informação clara sobre o que
realizar, como realizar e quando está terminado.


Depois precisa ainda de ser ajudada a generalizar essa mesma aprendizagem para
outros contextos. Assim num primeiro tempo, no espaço do Aprender (Trabalho 1 a
1) da Sala de Recursos TEACCH são trabalhadas, com material pedagógico
específico, por etapas, as tarefas necessárias para que cada criança atinja o/os
objectivo/s do seu Programa Educativo. Depois quando já é capaz de as realizar
pode passar a fazer essa tarefa no seu espaço/área de trabalho autónomo com a
posterior transição para o espaço de sala de aula, que se encontra
modificado/preparado, participando diariamente em actividades que decorrem nas
turmas a que pertencem.


Toda esta dinâmica (modificação do ambiente e o suporte de material pedagógico
adequado) permite a realização diária de tarefas que a criança é capaz de executar,
diminuindo o grau de frustração e promovendo relações significativas com as

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actividades e com os contextos, melhorando nelas a capacidade autónoma de
desempenho em contextos variados, nomeadamente na turma a que cada uma
pertence, em casa com a sua família, ou noutros espaços generalizando as
competências aprendidas de forma a optimizar as aprendizagens.

E por último mas de extrema importância as rotinas que, conforme já foi referido,
surgem incluídas na planificação e na gestão das tarefas do dia a dia e dos materiais
e permitem processar informação de forma mais eficaz facilitando a aprendizagem,
pois podem ser usadas numa variedade de situações e eventualmente alteradas. A
maior parte destas crianças desenvolve rotinas, no entanto, muitas vezes são pouco
funcionais.

Conclusão

Em suma educar crianças com Perturbação do Espectro Autista é hoje claramente
viável e possível em inclusão, no entanto, apresenta enormes desafios aos
profissionais envolvidos devido às características que estas manifestam. Os
problemas de linguagem podem constituir um obstáculo à comunicação; a
resistência à mudança e neste caso à aprendizagem não permite frequentemente a
utilização de técnicas de ensino-aprendizagem e avaliação tradicionais. Por vezes, o
seu elevado funcionamento mental em algumas áreas pode levar o professor a criar
falsas expectativas e consequente frustração; as respostas alteradas a estímulos
ambientais usados na educação podem levar os outros a responder e a actuar de
forma menos adequada às situações, as alterações de humor, por vezes
aparentemente inexplicáveis, podem representar desafios e momentos de enorme
perplexidade aos pares.

Para um professor o que se torna crucial realçar é que independentemente de qual a
sua etiologia o Autismo é um distúrbio do desenvolvimento que irá afectar todo o
processo de aquisição de experiências, por isso as crianças com P.E.A. manifestam
diferenças no modo como aprendem. Tudo aquilo que as outras crianças aprendem
espontaneamente tem de lhes ser ensinado e explicado utilizando procedimentos de
intervenção que reconheçam e procurem compensar essas dificuldades muito
específicas. Assim, e de acordo com cada criança, deve ser elaborado um programa

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interventivo baseado numa estrutura externa que lhes proporcione pistas
orientadoras do processo de aprendizagem. Esta deverá funcionar como uma
estratégia que compense a sua dificuldade para aprender de forma espontânea e
auto-orientada.

Efectivamente, a criação de ambientes estruturados e programas diários que
implementem estratégias aplicadas de forma detalhada, sequenciada e persistente
torna possível que elas aprendam e apresentem uma melhoria significativa.
Possibilita o aumento das capacidades funcionais, a redução das limitações e dos
comportamentos disruptivos e ainda a melhoria nos desempenhos e nas suas
adaptações aos contextos frequentados pelas outras crianças, nomeadamente o
escolar.

O envolvimento e a formação de todos os que lidam com a pessoa com autismo é
essencial. A interacção social e a aprendizagem tendem a melhorar a sua expressão
sintomática. Serão as relações a modificar a sua evolução e o seu prognóstico. As
necessidades específicas de cada um não serão apenas determinadas pelas suas
dificuldades de desenvolvimento, mas principalmente na forma como estas se
organizam no contexto em que a aprendizagem acontece.

Apesar de esta sala ser um espaço para trabalhar com as crianças com P.E.A. está
sempre aberta a qualquer aluno da escola que nela queira estar, seja para brincar,
para ser ouvido, ou apenas para esperar que o seu professor chegue. A pouco e
pouco ela é hoje um espaço de todos no qual se pratica a inclusão inversa.

Modificando o ambiente, reduzindo ou aumentando os estímulos, promovem-se as
interacções das crianças ajudando as que apresentam P.E.A. a encontrar motivação
para a relação com o outro e as outras a respeitar o colega diferente na sua
diferença.

De facto, nesta escola a inclusão tem sido uma realidade efectiva na qual os
docentes envolvidos, professores formidáveis tanto em termos pedagógicos como
pessoais, têm enriquecido e partilhado as suas práticas pedagógicas. Os colegas
das turmas após esta experiência vivida serão concerteza no futuro cidadãos mais

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completos, pois praticam diariamente uma construção de valores de respeito pela
diferença e experimentam a tolerância à frustração ao não obterem do outro as
respostas normalmente esperadas e por isso manifestam capacidades gradualmente
superiores de resolução de conflitos e de compreensão e de aceitação de diferenças
no outro.

Esta escola, tão especial e acolhedora, relembra-nos todos os dias que na vida
apesar de cada um seguir o seu caminho ele faz parte de um todo que diz respeito à
humanidade e isso faz-nos sentir como é bom estarmos sempre atentos e
disponíveis para “Aprender a olhar para o outro” e para acreditarmos no seu
potencial. A inclusão não pode ser considerada um privilégio, ou uma mera opção
estratégica, é um direito e, sobretudo, um exercício de cidadania a praticar
diariamente e que abre caminho rumo a uma escola na qual todas as crianças
devem ter um lugar, independentemente das suas diferenças, conforme preconiza a
Declaração de Salamanca (1994).

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Referências bibliográficas:

CALDEIRA, Pedro, (2005). Abordagens à problemática do Autismo-
Caracterização e Intervenção- Jornadas de Formação Caldas da Rainha Junho
2005

DECLARAÇÃO DE SALAMANCA (1994). Conferência Mundial sobre
Necessidades Educativas Especiais, Acesso e Qualidade, Ed. UNESCO

FUENTES, J. (1992). Autism and Special Educational Needs: Looking Ahead.
San Sebastian. Gautena.

JORDAN, Rita. (2000). Educação de Crianças e Jovens com Autismo, Instituto
de Inovação Educacional, Lisboa.

MARQUES, Carla Elsa (2000). Perturbações do Espectro do Autismo : Ensaio
de uma Intervenção Construtivista Desenvolvimentista com Mães, col. Saúde
e Sociedade, Quarteto, Coimbra.

WANG, Margaret, Gorden PORTER & Mel. AINSCOW (1997). Caminhos para as
Escolas Inclusivas, Instituto de Inovação Educacional, Lisboa.

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