"Não devemos permitir que uma só criança fique em sua situação atual sem desenvolvê-la até onde seu funcionamento nos permite descobrir que é capaz de chegar. Os cromossomos não têm a última palavra". (Reuven Feuerstein)

domingo, 8 de setembro de 2013

FESTA POP SOLIDÁRIA

Foi realizada nesse sábado, 7 de setembro, no Campo da Ativa, a FESTA POP Solidária, evento que tem como finalidade arrecadar fundos para a execução do Projeto Mosaico, que beneficiará estudantes da Apae de Itabira. O objetivo é proporcionar aos alunos o desenvolvimento de suas habilidades psicomotoras, além de gerar renda. 

A presidente da entidade, Emídia Tércia, afirmou que esse foi um momento muito importante para o movimento apaeano. Ela enalteceu a parceria com o empresário idealizador, Evanes Campos, e os demais parceiros em prol da sustentabilidade da associação. “É uma angústia todos os meses a gente pensar: de onde vem o dinheiro?”, declarou, agradecendo a todos. Também estiveram no evento o conselheiro da Apae, José Eustáquio Ferreira e o secretário municipal de Meio Ambiente, Nivaldo Ferreira. Em seu discurso, Nivaldo parabenizou os envolvidos na ação, falou de sustentabilidade e citou o convênio da Apae com o Projeto SOS Natureza, que tem como objetivo promover a conscientização ambiental. Participaram do evento alunos da entidade, pais e comunidade em geral.

Padre Cleverson proferiu uma bênção apostólica para dar início ao Projeto. O Meninos de Minas foi o primeiro grupo musical a se apresentar, com um repertório bastante animado. Houve inúmeras atrações musicais e culturais e sorteios de uma mesa de granito, um vaso modulado Clarice e uma TV de 32 polegadas. Doações espontâneas foram feitas no local.

Apresentação do grupo Meninos de Minas, Back Ferraz Luiz End, Luiz Bira, Paola Guerra, nossos alunos João Vitor Avancini Parrini e João Batista, La Trupe, Banda Gava, DJ Junior Rodrigues, Banda Curva de Gaus, DJ Rafael Oliver, Bruno Marvin, Banda GodCore e André Ribeiro.



Presidente da APAE  Emidia Tércia



Alunos e suas famílias

Professoras doando seu tempo com amor



Mães apaeanas solidárias

Grupo Meninos de Minas




Nossa aluna com autismo, Adriana e seu pai, Jair: grande parceiro


Nossa diretora e a frente dessa linda festa: Maria da Glória Eisenberg


Genro Henrique e filha  Rachel
                                     

                                      

                                      

Aluna com autismo, Jordana e sua mãe

Nosso aluno cantor e seu irmão: que vozes abençoadas!
Nosso aluno João Batista e seu irmão

   
Aluno com autismo, Vítor Junio e sua mãe: sempre participativos






Aluno autista e grande artista, João Vítor e seus avós: grandes incentivadores!








Funcionários trabalhando com alegria: Vera (pedagoga), Pricila e Deise








João Vítor arrasando com Gun's Roses
João Vítor e sua profª Rosilda
João Vítor arrasou!

João Vítor e sua profª Rosilda




Miriã Fonseca abrilhantou  na apresentação dos artistas














segunda-feira, 26 de agosto de 2013

Autismo Universo Particular - Parte 4 - Fantástico - 25/08/2013



Uma das maiores preocupações das famílias que estão no universo particular do autismo é com o futuro dessas crianças. Elas devem ir para escolas regulares ou especiais? E, quando crescerem, vão ter condições de conseguir um emprego?
No último episódio da série, o doutor Drauzio Varella mostra que o diagnóstico de autismo, em muitos casos, não impede que a pessoa trabalhe, seja produtiva e construa uma vida.

O autismo afeta quase todos os aspectos do comportamento: a fala, os movimentos do corpo, o interesse por amizades, a vida social, as emoções. O mundo autista é muito variado. Vai dos que nem falam, até aqueles com habilidades incríveis. Como educar crianças com necessidades tão diferentes? Colocá-las em escolas comuns ou especiais?
Como incluir no mercado de trabalho pessoas com tanta dificuldade para compreender as intenções dos outros? Inclusão. É o tema do último episódio da série Autismo: universo particular.
O autismo deve ser diagnosticado precocemente para que a criança possa ter acesso a profissionais especializados. É nessa fase inicial que o tratamento tem os melhores resultados.

EDUCAÇÃO
Crianças com autismo podem desenvolver talentos específicos em determinadas áreas do conhecimento.  Desde que essas habilidades sejam identificadas e estimuladas de forma inteligente. Esse passo inicial muitas vezes depende da escola.
“Se ele puder, deve ficar numa escola regular até o momento em que ele começa a sentir que ele não é igual aos outros, que ele está sempre atrás demais e que isso comece a trazer problemas para ele. Mas eu não vejo por que um autista com deficiência intelectual severa estar dentro de uma classe regular. Ele está perdendo tempo. Ele não está se socializando”, avalia o doutor Salomão Schwartzman.
O Lucas sentiu na pele esse problema. Até a quinta série, frequentou uma escola convencional. “Eu não lembro o que, mas não me sentia bem com aquela gente. Não pareciam ser, como diziam, amigos de verdade. Como se rissem atrás de mim, sobre minhas costas e nunca tinha notado”, lembra o jovem.
Crianças com autismo são alvo fácil para as maldades típicas da infância. Agora, Lucas está matriculado na AMA, a Associação de Amigos do Autista, e também estuda em casa, com a ajuda da mãe.
Em Curitiba, os pais de Thomas e Nicholas encontraram uma fórmula intermediária para a educação dos filhos.
Thomas, que tem um tipo mais leve de autismo, estuda em uma escola particular de alto padrão. Aos 15 anos, Thomas tem um talento especial para matemática avançada e ciência da computação.
Nicholas, que tem uma forma mais grave de autismo, frequenta a mesma escola do irmão em meio período, e complementa a educação em uma clínica especializada em terapia comportamental, onde conta com a ajuda de profissionais de diversas áreas.
Uma das escolas mais preparadas para tratar e educar pessoas com autismo fica em Nova Jersey, nos Estados Unidos.
É uma escola pública totalmente adaptada para os 250 alunos, entre 3 e 21 anos. Lá, os alunos aprendem profissões que possam desempenhar mesmo com as limitações que apresentam.
Numa área que imita uma rua de comércio, eles entendem como se organiza a correspondência de um escritório, por exemplo, ou como se trabalha em um banco ou supermercado.
No Brasil, o acesso a essa qualidade de ensino depende do poder aquisitivo das famílias.
Quem tem condições encontra boas escolas particulares como uma em São Paulo, onde 80 alunos com o transtorno convivem em harmonia com as demais crianças. Para conseguir emprego para os alunos, a escola fez uma parceria com um grande banco.
Desde dezembro de 2012, o autismo é considerado, por lei, um tipo de deficiência mental. As pessoas que apresentam esse transtorno têm direito a benefícios na rede pública de saúde e de ensino.  A aprovação da lei só foi possível graças à dedicação de muitos pais, em especial Berenice Piana, mãe de um rapaz com autismo.
“A lei é, na verdade, a Carta Magna dos direitos das pessoas com autismo no Brasil. O ponto principal dela é: reconhece a pessoa com autismo como pessoa com deficiência.  Segundo: o direito ao diagnóstico precoce. O tratamento multidisciplinar são vários profissionais para tratar uma pessoa com autismo. O direito à matrícula na rede regular de ensino. É proibido negar a matrícula a uma pessoa com autismo, sob pena de multa”, ela explica.
Mas, na realidade, ainda há um longo caminho a percorrer. Muitos pais não conseguem atendimento para seus filhos.  Foi o que aconteceu com o Matheus. Ele é deficiente visual e tem autismo. A mãe dele, Eliane, ganhou na Justiça o direito de o filho receber aulas em casa com um professor da rede pública. Mas os livros didáticos oferecidos não estão em Braille, o sistema de leitura para cegos.
Em uma escola municipal, em São Paulo, Yasmin, de 7 anos, recebe a orientação de profissionais em uma sala multifuncional, adaptada para a realização de atividades específicas. Além disso, crianças com autismo devem ser acompanhadas por estudantes de pedagogia durante as aulas.  Mas não há ainda, na rede pública do município, estagiários suficientes. A prefeitura de São Paulo diz que está contratando mais estagiários.

MERCADO DE TRABALHO
A inclusão no mercado  de trabalho é difícil, mas existe. É o caso de Alberto. Ele tem 21 anos e foi diagnosticado com autismo aos 3. Desde pequeno, ele estuda e consegue fazer a maioria das atividades diárias por conta própria.
Como mostrado no último episódio, com treinamento adequado, algumas pessoas com autismo atingem um grau razoável de independência - o suficiente, por exemplo, para andar pela cidade e usar o transporte coletivo.
Alberto é balconista em uma farmácia em São Paulo. Mas atingir esse nível de autonomia, infelizmente, não é regra entre as pessoas com autismo.
Pelo poder de concentração em uma atividade e à atenção aos detalhes, pessoas com autismo podem ser profissionais imbatíveis.
Numa empresa fundada na Dinamarca, hoje presente em oito países, a maioria dos empregados está dentro do espectro do autismo. Ela vende serviços de programação de computadores e processamento de dados. a tecnologia é um campo excelente para o desenvolvimento das capacidades dos autistas.
O gerente da empresa se orgulha da política de inclusão. Esse é o começo de carreiras brilhantes para essas pessoas. Com suas capacidades desenvolvidas, esses profissionais vão para trabalhos cada vez mais complexos, e se tornam independentes.
Quando os pais não estiverem mais presentes, eles poderão ter vidas produtivas e se sentir realizadas.

FUTURO
O doutor Drauzio Varella conta que, durante as gravações da série, aprendeu que o autismo desorganiza a comunicação e as funções sociais. Que as manifestações iniciais podem ser notadas já nos primeiros meses de vida e que é fundamental reconhecê-las o mais cedo possível, em uma fase em que o cérebro tem grande plasticidade para formar novas conexões, em resposta aos estímulos educativos.
Para compreender e educar uma criança com autismo, é preciso esforço, dedicação e sabedoria para penetrar em seu universo, e fazer com que o nosso lhe pareça mais acessível e menos absurdo.
Kevin já começou esse processo. Por enquanto, ele está em tratamento clínico no Centro de Atenção Psicossocial, o CAPS. A família de Idryss comemora as pequenas conquistas. Hoje, os pais vão deixá-lo em casa com uma amiga e ter a primeira noite romântica em muitos anos.


segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Autismo Universo Particular - Fantástico - Parte 3 - 18/08/2013




Dependência dos pais

No dia em que Hyandra, a caçula da família, completou 9 anos, os pais, Kelly e Silvio, prepararam a casa para a festa.
O entra e sai de pessoas perturba o irmão mais velho de Hyandra. Idryss, de 15 anos, tem uma forma grave de autismo.
Idryss não fala. Com frequência, morde a mão e a gola da camiseta, comportamento repetitivo que piora quando ele fica nervoso. Mudanças na rotina podem ser desagradáveis para pessoas com autismo. Por mais que o pai tente, Idryss não se acalma. O menino exige atenção constante.
Nos primeiros meses de vida, o desenvolvimento de Idryss foi igual ao dos outros bebês. O drama da família também atinge a filha mais nova. Hyandra não tem autismo, mas sofre com a falta de atenção dos pais.
Algumas manifestações do autismo exigem tanta atenção que levam a família ao desespero. Todos passam a viver em função da criança, em tempo integral. Família nenhuma está preparada para enfrentar um problema dessa gravidade sem receber orientação especializada.

No terceiro episódio da série, o Doutor Drauzio Varella fala dos principais métodos de tratamento do autismo. E como é possível tornar o mundo mais acessível a eles.
O autismo modificou radicalmente a rotina da família de Kevin.  Reginaldo, o pai, chegou a trocar de emprego para ficar mais tempo perto do filho.
Ele comprou um carro e começou a fazer anúncios pelas ruas do bairro. A mãe, Vera, vai o tempo todo atrás, tomando conta do menino.
Os pais não veem outra solução a não ser satisfazer as vontades de Kevin. É o que acontece também quando eles permitem que o menino tome banho toda hora. Será que essa é a melhor maneira de lidar com os comportamentos repetitivos, comuns no autismo? 
“Quando eu percebo que, quando eu me bato, me mordo, bato a cabeça na parede, pai e mãe imediatamente deixam de fazer o que fazem para me socorrer, eu tenho a chave para ele, eu estou dizendo: ‘quando você quiser minha atenção, basta se machucar’. E, como qualquer um de nós, você também repetiria incessantemente a mesma coisa que te traz uma recompensa. Estar abraçado ou contido pelos pais pode ser uma recompensa e eu acredito que ele esteja fazendo isso a todo momento”, explica o doutor Salomão Schwartzman.
Como a família do Kevin, os pais de Idryss mudaram de vida em função do filho. Eles passaram a trabalhar em casa. Kelly instalou uma máquina de costura em um canto da sala. Ela faz toalhas de mesa que o marido, Sílvio, vende.
Idryss não desgruda do pai. Cuidar de uma criança com autismo pode ser uma carga imensa. Em certos casos, o transtorno impõe tantas limitações que um simples passeio no parque se mostra impraticável. Esse dia a dia às vezes se torna sufocante.
“Você já passa a tomar atitudes superprotetoras, você começa a, sem querer, entrar na doença do filho. Eu diria que algumas famílias com filhos com autismo ou alguma outra condição crônica, acabam também se tornando autistas, porque passam a viver em função daquela condição e não aprendem a forma correta de você tentar evitar os comportamentos inadequados, inserir essa criança no mundo, na medida do possível”, avalia Schwartzman.
Como as alterações que levam ao autismo ainda são mal conhecidas e o transtorno é incurável, existe um número muito grande de tratamentos que prometem bons resultados. Muitas dessas terapias não têm comprovação científica.

Glúten 
Crianças com autismo às vezes são extremamente seletivas para se alimentar. Chegam a limitar o cardápio a apenas um tipo de comida. É mais uma atitude que a terapia comportamental tenta desestimular. Muitas famílias acreditam que cortar o glúten da dieta dos filhos alivia os sintomas do transtorno. Glúten é a proteína encontrada em cereais como trigo, cevada, centeio e aveia.
Na casa do Renato, sempre há duas opções de refeição. Ele e os dois filhos com autismo não comem nada com glúten.
Os especialistas argumentam que não há comprovação científica de que o glúten tenha influência nos quadros de autismo.

Tratamentos 
Em São Paulo, a AMA, Associação de Amigos do Autista, oferece tratamento gratuito, em convênio com o governo estadual, para pessoas com o transtorno.
Na AMA, as crianças realizam uma lista de atividades organizadas em painéis. É o método "TEACCH".  O objetivo é dar um mínimo de independência, ensinando as tarefas simples do dia a dia.
Os alunos aprendem a arrumar a cama, escovar os dentes, amarrar os sapatos. A cada acerto, a criança pode fazer algo que goste.
Os pais de Idryss contam que ele melhorou bastante com a terapia comportamental.

Outro exemplo de aprendizado que ajuda a melhorar a comunicação é o método PECS. As crianças juntam cartões para formar frases.
Lucas é uma das crianças atendidas pela AMA. Ele tem um tipo mais brando de autismo, diferente dos casos de Kevin e Idryss. Até recentemente, essa forma do transtorno era conhecida como síndrome de Asperger.
Os portadores de Asperger não apresentam deficiências intelectuais graves. Eles são capazes de se expressar, muitas vezes com uma linguagem formal, rebuscada, e geralmente têm um talento direcionado para uma área específica.

Este ano, os médicos abandonaram essa denominação. Agora, a síndrome de Asperger é considerada apenas mais uma manifestação do espectro do autismo.
Depois de receber o diagnóstico de autismo, a família levou Kevin para a AMA. Kevin passou por uma avaliação. Apesar do diagnóstico tardio, a terapia comportamental ainda pode ajudar o menino.
Mas, infelizmente, Kevin vai ter que esperar. A AMA está sobrecarregada. As oportunidades de tratamento gratuito não estão ao alcance da maioria das famílias Brasil afora. 
“É um dos principais problemas de saúde pública da infância. Se você imaginar que 1% da população tem isto, você necessita de uma estrutura extremamente complexa e abrangente. E escute, eu tô falando de São Paulo, Drauzio. Você sai daqui e vai aí para Norte e Nordeste, você não encontra nada em algumas cidades”, destaca Schwartzman.

É obrigação do Estado atender às pessoas com autismo. Desde 2012, uma lei determina que o transtorno receba o mesmo atendimento destinado a outros tipos de deficiência mental.
As famílias que têm crianças com autismo devem procurar os CAPS, Centros de Atenção Psicossocial. Mas eles não estão presentes em grande parte dos municípios brasileiros.
Lucas 
E aí a pergunta é: faz o diagnóstico, levanta uma ansiedade brutal, e você não tem como atender essas pessoas? Nesses casos, o desenvolvimento das crianças depende exclusivamente da dedicação das famílias. Dedicação como a de Paula, mãe de Lucas, que criou uma cartilha para que ele se acostume com o que vai encontrar fora de casa.
Lucas já aprendeu a andar sozinho na rua. Ele entendeu que não pode atravessar a rua quando o sinal estiver aberto para os carros. Mesmo com a rua livre, Lucas espera pacientemente.
Agora, a mãe, Paula, está ensinando o filho a andar de ônibus sozinho e a manter a calma quando ela não está por perto. Paula mostra pontos de referência para que Lucas não perca o ponto de parada.
Ele aprendeu no computador e nas viagens com a mãe quais são os pontos de referência que deve observar. Vinte minutos depois, chega ao ponto final. E os pais esperam por ele.






terça-feira, 13 de agosto de 2013

Autismo se instala nos 3 primeiros anos de vida; conheça possíveis sinais do transtorno - Parte 2 - 11/08/2013



No segundo episódio da série “Autismo, universo particular”, Drauzio Varella investiga os sinais do autismo e por que é tão difícil chegar a um diagnóstico.

O ator Marcelo Serrado leva o drama do autismo para os palcos e revive um personagem marcante do cinema: Rain Man, sucesso nos anos 80. “Fazer um autista é um presente para qualquer ator. Porque esses caras são especiais”, diz o ator.
Como e quando o autismo se manifesta? Quais os primeiros sintomas? E por que é tão importante começar o tratamento o mais cedo possível?
O autismo se instala nos três primeiros anos de vida, quando os neurônios que cordenam a comunicação e os relacionamentos sociais deixam de formar as conexões necessárias. Embora o transtorno seja incurável, quando demora para ser reconhecido, esses neurônios não são estimulados na hora certa e a criança perde a chance de aprender.
Estudo mostrou que, enquanto nos Estados Unidos o diagnóstico é feito antes dos 3 anos de idade, no Brasil o transtorno só é identificado quando a criança já tem de 5 a 7 anos. Esse atraso agrava as deficiências do autismo e traz mais sofrimento para as famílias.
O caso de Kevin
Há seis anos, Vera e Reginaldo procuram um diagnóstico que os ajude a compreender os males que afligem o filho Kevin. Você conheceu o Kevin no domingo passado. Vimos que ele se levanta diversas vezes, de madrugada, pra tomar banho. Desde pequeno, o menino começou a apresentar comportamentos peculiares.
Quando percebe que está chegando o momento de comer, Kevin fica agressivo. O som do liquidificador é especialmente irritante no autismo. Kevin se alimenta de papinha, ele recusa alimentos sólidos.
“A gente já foi em neuro, psiquiatra, psicólogo, pediatra, clínico, tudo quanto é médico a gente já foi. Uns falam que é retardo mental grave, outros falam que não. Tem médico que fala que ele não tem nada, que pode ser uma birra, uma manha”, diz a mãe. 
O neuropediatra Salomão Schwartzman analisou vídeos de quando Kevin era bebê. Aos quatro meses, ele se comportava como qualquer criança. Mas com um ano idade, ele já apresentava pequenos sinais de autismo.
“Fica olhando sempre na mesma direção. Ele não explora mais o ambiente. E uma face sem muita expressão”, analisa o médico.
Foi somente no mês passado que a peregrinação terminou. Kevin recebeu o diagnóstico de autismo - um diagnóstico tardio. A demora em identificar o transtorno dificulta o tratamento. Depois de seis anos, a família de Kevin pôde, finalmente, procurar ajuda especializada.
Kevin perdeu a oportunidade de receber tratamento nas fases iniciais de seu desenvolvimento. Agora, será preciso muito trabalho para correr atrás dos prejuízos.
“A gente sempre fala que a gente não vai ficar assim pro resto da vida, como que será que vai ser ele sozinho? Quem vai querer cuidar dele? Como será que vai ser a vida do Kevin? A gente se preocupa já com isso. 'E complicado, né?”, diz a mãe de Kevin. 
Sinais de autismo
Quais são os sinais típicos do autismo? Algumas características podem ajudar você a desconfiar quando a criança tem autismo. Desconfiar porque quem vai fazer o diagnóstico é o especialista.
Um dos sintomas mais comuns é quando a criança não responde ao ser chamada pelo nome.  A criança parece surda. Você chama pelo nome, ela não responde.
Na presença de outras crianças, ela se isola. Não participa de brincadeiras coletivas. Ela evita o contato físico. Você vai fazer um carinho e ela se afasta. Parece que tomou um choque. É hiperativo. Anda pra lá e pra cá, mexe em tudo, não para um minuto.
Mais uma característica marcante: não apontar com o dedo para o objeto que quer alcançar.
Ela pega no seu braço e leva até ele, como se usasse a sua mão como uma ferramenta.
A relação com os objetos - brinquedos, por exemplo - é diferente do esperado. Ela usa os objetos de uma forma muito particular. Ela pega um carrinho, vira ao contrário e é capaz de passar horas girando a rodinha.
Também não sabemos por que, mas pessoas com autismo parecem ter uma sensibilidade alterada. Podem cair no choro por causa de um simples toque. Mas, às vezes, se machucam feio e não demonstram sentir dor. Mesmo em dias muito frios, não se preocupam em se agasalhar.
A criança com autismo foge do contato visual. “Mesmo às vezes na primeira mamada. E é o momento em que seguramente o bebê olha nos olhos da mãe já com horas de vida. Algumas vezes você consegue detectar a falta desse contato”, explica Salomão.
Hoje, testes clínicos permitem entender melhor essa dificuldade.
O caso Gabriel
“O diagnóstico do Gabriel tem uns quatro anos mais ou menos. Porque até então eu não sabia. Sabia que o Gabriel era um menino especial”, conta a mãe do que menino que tem hoje 16 anos.  
Nós fomos com ele fazer um teste. O programa de computador registra para que ponto a pessoa está olhando quando vê uma figura na tela.
“Quando você mostra numa tela um bebê e um relógio, normalmente eles olham muito mais pro relógio. Eles não têm tanto interesse pra olhar pro bebê. Quando você mostra um rosto, um de nós deve olhar pros olhos - como eu estou olhando pro teu agora. Eles em geral olham pra outra parte do corpo”, explica Salomão.
Ao ver uma foto, Gabriel mostrou que é capaz de olhar nos olhos de uma pessoa. Mas revelou outro sintoma comum no autismo. Às vezes, ele não consegue interpretar corretamente o contexto de uma cena.
No autismo, pode existir uma dificuldade em interpretar figuras. “O que a gente imagina? Que provavelmente ele observa o mundo de forma fragmentada. Se você somar essa dificuldade de visualizar o contexto, mais as dificuldades que eles têm de linguagem, você começa a perceber que o mundo deles é muito diferente do nosso”, observa Salomão. 
De volta ao consultório, mais um teste com Gabriel.  Desta vez, para detectar se Gabriel é capaz de reconhecer expressões faciais. Gabriel diz que está vendo uma pessoa de boca aberta.
Para a maioria das pessoas, o reconhecimento é intuitivo. Mas Gabriel demora, procurando pistas que o ajudem a entender o que está vendo.
O caso Ana Beatriz
Drauzio Varella foi até Santo André, na grande São Paulo, para conhecer a Ana Beatriz, de 4 anos. “Eu fiz sete fertilizações pra ter ela. Graças a Deus ela veio. Eu tive ela com 46 anos”, conta a mãe, Marinês Câmera.
A mãe conta que Ana Beatriz nasceu prematura e se desenvolveu normalmente até os 2 anos. Mas quando entrou na escola, a mãe percebeu que tinha algo estranho, com 2 anos ela não falava. 
Alguns bebês com autismo nem chegam a falar, é bastante comum. Outros começam a pronunciar as primeiras palavras, mas de uma hora para a outra regridem. Um choque para a família.
Apesar de não falar, Ana Beatriz é uma criança cheia de habilidades - esperta mesmo.
Quando Drauzio Varella esteve em sua casa, ela mostrou que é capaz de entender números e organizar os brinquedos.
“Se você colocar fora da ordem, por exemplo, ela vai lá, empurra tudo, e ela coloca na ordem”, explica a mãe.
Marinês sabe que a filha tem autismo, mas está cheia de dúvidas quanto ao grau do transtorno.
“Ela entrou no consultório e me ignorou totalmente. Isso já é uma coisa que chama um pouquinho a atenção, porque não é esperado numa criança com desenvolvimento social típico”, aponta Salomão. 
Ao ganhar uma caixa de brinquedos, Ana Beatriz reage de forma inesperada. Em vez de brincar com os trenzinhos, ela começa a organizá-los em fileira, cada um por tamanho e cor, todos voltados para a mesma direção.
“Não é um brincar lúdico. Isso é uma organização, é uma coisa sistemática. Eles são extremamente sistemáticos. O mundo da criança com autismo é um mundo que ela tenta classificar, organizar, sistematizar”, diz Salomão.
A avaliação, feita a nosso pedido, foi até certo ponto tranquilizadora. “Ela não é um caso de autismo severo. Porque ela não demonstra até agora uma deficiência intelectual. Ela demonstra claramente que ela sabe o que quer fazer, identifica corretamente, organiza de forma absolutamente racional”, explica Salomão.




segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Série 'Autismo' no FANTASTICO 04-08 - parte 1




Autismo era considerado uma condição rara, que atingia quatro indivíduos para cada 10 mil vivos. Hoje, a pesquisa mais recente fala em um para cada 92.
Neste domingo (4), o Fantástico estreou a série ‘Autismo: Universo Particular’. Para produzir a série, Dráuzio Varella esteve casa de vários pacientes portadores desse transtorno para mostrar como vivem essas famílias e essas crianças.
No Paraná, há uma família com dois filhos em que o autismo se manifesta de uma forma bem diferente em cada um dos irmãos. O pai passa as noites segurando o filho enquanto ele dorme.
Kevin não para de se mexer e se bate repetidamente. Durante a noite, ele acorda querendo tomar banho, porque só isso o acalma por algum tempo. “Já tive vontade até de me matar pela situação de bater nele, dele se agredir e não ter o que fazer, entendeu? Já passou pela minha cabeça de fazer qualquer besteira, então é difícil”, conta o pai.
Os pais de Kevin estão em busca do diagnóstico de que o filho tenha autismo, um distúrbio que desafia a ciência. Não se sabe as suas causas e ele é cada vez mais comum. Especialistas calculam que o autismo atinja 1% das crianças.
“O autismo hoje é considerado um distúrbio no desenvolvimento causado por condições genéticas e ambientais e que, na verdade, não é uma condição só. Hoje, a gente fala em um conjunto de autismos pela enorme variabilidade que ele tem. A característica fundamental dos autismos é o prejuízo na comunicação, na interação social e na presença de comportamentos peculiares. Comportamentos repetitivos sem muito significado, que os indivíduos parecem ficar realizando sem uma finalidade muito clara”, explica o neuropediatra especialista em autismo Salomão Schwartzman.
O médico explica que o autismo era considerado uma condição rara, que atingia quatro indivíduos para cada 10 mil vivos. Ele aponta que a pesquisa mais recente fala em um para cada 92. “A gente está falando de uma coisa que não é rara, é extremamente comum. Você encontra na escola, no escritório, no seu consultório, identifique ou não”, avalia Schwartzman.
Segundo o especialista, o autista é metódico. “O mundo ideal é aquele em que as coisas não se modificam. Eu acordo na mesma hora, visto a mesma roupa, tomo café do mesmo jeito, no mesmo prato, com a mesma xícara. Qualquer variação disso traz um extremo desconforto”, explica o neuropediatra.
Uma família que vive o autismo muito intimamente mora em Teófilo Otoni, em Minas Gerais. Renato, o pai, sempre foi meio esquisitão. “Desde criança eu achava ser estranho normal, mas porque eu tirava por mim. Para mim, todo mundo era estranho”, conta ele. Renato casou com Ana Maria, que já tinha uma filha, Fernanda. Juntos, eles tiveram Mateus e Máximo – os dois com autismo – e Bárbara, a mais nova. “Eu já estou mais do que acostumada a lidar com eles. Na verdade, acho eles mais fáceis por causa da questão da rotina”, diz Ana.
Mas mesmo as atividades mais rotineiras podem ser um imenso desafio para pessoas com autismo. Escolher um conjunto de roupas para trocar o filho pode ser uma tarefa impossível.
“É muita opção. Combinação de cor, de não sei o que... Sempre me visto pelo conforto e, exatamente para não ter esse problema de combinação, visto uma cor só”, brinca Renato.
Os humanos são animais sociais. Se não tivessem formado grupos, os antepassados teriam desaparecido da face da Terra. Mas há pessoas com transtorno de desenvolvimento que apresentam enorme dificuldade de relacionamento social. Para elas, sons, movimentos, olhares e solicitações dos outros provocam um curto-circuito que as deixa desorientadas e aflitas. O autismo é um transtorno desse tipo, no qual a rede de neurônios que controla, no cérebro, a comunicação e os contatos sociais está desorganizada. “Diria que a marca registrada do autismo é a falta de desejo ou de possibilidade de interagir com o outro”, diz Schwartzman.
Atualmente, o autismo é considerado um distúrbio com um amplo espectro de manifestações, desde as crianças, como Kevin e Máximo, que têm enormes dificuldades de responder aos estímulos, até pessoas que têm problemas de convívio social, mas são extremamente talentosas em áreas específicas. O cérebro deles funciona de forma única, que ainda é um mistério para a ciência.
Em um quarto cheio de circuitos eletrônicos e fórmulas matemáticas, um autista genial é Jacob Barnett. Ele está prestes a se tornar mestre em física quântica aos 14 anos. Ele dá aulas na internet desde pequeno e hoje participa de pesquisas na Universidade de Indiana, nos Estados Unidos, e pode ganhar o Prêmio Nobel.
O caso dos irmãos de Curitiba Nicholas, de 13 anos, e Thomas, de 15, é parecido. O mais velho, que já aos 3 anos demonstrava facilidade com números, já fez diversos cursos em nível universitário nas áreas de matemática e ciência da computação.
Segundo o neuropediatra Salomão Schwartzman, o impacto de um filho autista em uma família pode ser brutal. “É algo muito difícil de você lidar. Quando você tem um filho que é um deficiente intelectual, por qualquer razão que seja, depois de algum tempo, por maior que seja o luto que você tem com relação a isso, você se habitua a uma criança que bem ou mal tem uma linha de base. Ou seja, ele tem prejuízos, mas que depois de algum tempo você sabe quais são e passa a conviver bem com isto”, diz.
Na novela ‘Amor à vida’, a atriz Bruna Linzmeyer interpreta Linda, uma garota com autismo. “Eu tinha ouvido falar muito pouco sobre o autismo, porque é um tema muito pouco conhecido pela nossa sociedade. A gente criou uma linguagem dessa personagem se comunicar, como ela dramaturgicamente se envolve em cena. Isso é o mais difícil. Cada detalhe é muito importante”, conta ela.
Na próxima semana, o Fantástico investiga o diagnóstico de autismo: como descobrimos que alguém tem autismo se nem sabemos ao certo o que provoca esse distúrbio? Não perca!

Fonte: G1


quinta-feira, 25 de julho de 2013

Dez coisas que toda criança com autismo gostaria que você soubesse

Tenho encontrado algumas  mães angustiadas, às vezes se culpando, às vezes se perguntando o porque de ter um filho com autismo, e sem respostas para lidarem com certas situações que, às vezes, seus filhos apresentam. Participo de alguns grupos de autismo, onde encontro muitas informações que são muito úteis, mas também encontro  uma troca de informações que caberiam somente aos profissionais, como avaliações, testes, procedimentos...Existe um acervo vasto sobre autismo. Mas saiba discriminar as informações. Se oriente com os profissionais que lidam com seus filhos. A escola passa somente 4 horas diárias com seu filho. O restante do dia, eles estão com vocês. Portanto, bem orientados e treinados, vocês podem fazer muito por eles. É um tempo  precioso e não pode ser desperdiçado. Usem também sua intuição, sua sensibilidade, dê colo, acaricie e demonstre que você está ali, mesmo que ele ainda não  satisfaz às suas expectativas. 

“...Descobre que só porque alguém não o ama do jeito que você quer que ame não significa que esse alguém não o ama com tudo o que pode, pois existem pessoas que nos amam, mas simplesmente não sabem como demonstrar ou viver isso.
Aprende que nem sempre é suficiente ser perdoado por alguém, algumas vezes você tem que aprender a perdoar a si mesmo.
Aprende que com a mesma severidade com que julga, você será em algum momento condenado.
Aprende que não importa em quantos pedaços o seu coração foi partido, o mundo não para para que você o conserte.
Aprende que o tempo não é algo que possa voltar para trás. Portanto, plante seu jardim e decore sua alma, ao invés de esperar que alguém lhe traga flores. 
E você aprende que realmente pode suportar... Que realmente é forte, e que pode ir muito mais longe... depois de pensar que não pode mais. E que realmente a vida tem valor e que você tem valor diante da vida.” (William Shakespeare)

Gosto muito deste texto, a seguir e, é um chamado para todos os pais com filhos de Transtorno do Espectro Autista.

1) Antes de tudo eu sou uma criança. Eu tenho Autismo. Eu não sou somente "Autista". O meu autismo é só um aspecto do meu caráter. Não me define como pessoa. Você é uma pessoa com pensamentos, sentimentos e talentos. Ou você é somente gordo, magro, alto, baixo, míope. Talvez estas sejam algumas coisas que eu perceba quando conhecer você, mas isso não é necessariamente o que você é. Sendo um adulto, você tem algum controle de como se auto define. Se quer excluir uma característica, pode se expressar de maneira diferente. Sendo criança eu ainda estou descobrindo. Nem você ou eu podemos saber do que eu sou capaz. Definir-me somente por uma característica, acaba-se correndo o risco de manter expectativas que serão pequenas para mim. E se eu sinto que você acha que não posso fazer algo, a minha resposta naturalmente será: Para que tentar?

2) A minha percepção sensorial é desordenada. Interação sensorial pode ser o aspecto mais difícil para se compreender o autismo. Quer dizer que sentidos ordinários como audição, olfato, paladar, toque, sensações que passam desapercebidas no seu dia-a-dia podem ser dolorosas para mim. O ambiente em que eu vivo pode ser hostil para mim. Eu posso parecer distraído ou em outro planeta, mas eu só estou tentando me defender. Vou explicar o porquê: uma simples ida ao mercado pode ser um inferno para mim: a minha audição pode ser muito sensível. Muitas pessoas podem estar falando ao mesmo tempo, música, anúncios, barulho da caixa registradora, telemóveis tocando, crianças chorando, pessoas tossindo, luzes fluorescentes. O meu cérebro não pode assimilar todas estas informações, provocando em mim uma perda de controle. O meu olfato pode ser muito sensível. O peixe que está à venda na peixaria não está fresco; a pessoa que está perto pode não ter tomado banho hoje; o bebê ao lado pode estar com uma fralda suja; o chão pode ter sido limpo com amónia. Eu não consigo separar os cheiros e começo a passar mal. Porque o meu sentido principal é o visual. Então, a visão pode ser o primeiro sentido a ser super estimulado. A luz fluorescente não é somente muito brilhante, ela pisca e pode fazer um barulho. O quarto parece pulsar e isso machuca os meus olhos. Esta pulsação da luz cobre tudo e distorce o que estou vendo. O espaço parece estar sempre mudando. Eu vejo um brilho na janela, são muitas coisas para que eu consiga me concentrar. O ventilador, as pessoas andando de um lado para o outro... Tudo isso afeta os meus sentidos e agora eu não sei onde o meu corpo está neste espaço.

3) Por favor, lembre de distinguir entre não poder (eu não quero fazer) e eu não posso (eu não consigo fazer). Receber e expressar a linguagem e vocabulário pode ser muito difícil para mim. Não é que eu não escute as frases. É que eu não te compreendo. Quando você me chama do outro lado do quarto, isto é o que eu escuto: "BBBFFFZZZZSWERSRTDSRDTYFDYT João". Ao invés disso, venha falar comigo diretamente com um vocabulário simples: "João, por favor, coloque o seu livro na estante. Está na hora de almoçar". Isso me diz o que você quer que eu faça e o que vai acontecer depois. Assim é mais fácil para compreender.

4) Eu sou um "pensador concreto" (CONCRETE THINKER). O meu pensamento é concreto, não consigo fazer abstrações. Eu interpreto muito pouco o sentido oculto das palavras. É muito confuso para mim quando você diz "não enche o saco", quando o que você quer dizer é "não me aborreça". Não diga que "isso é moleza, é mamão com açúcar", quando não há nenhum a mamão com açúcar por perto e o que você quer dizer é que isso é algo fácil de fazer. Gírias, piadas, duplas intenções, indiretas, sarcasmo, eu não compreendo.

5) Por favor, tenha paciência com o meu vocabulário limitado. Dizer o que eu preciso é muito difícil para mim, quando não sei as palavras para descrever o que sinto. Posso estar com fome, frustrado, com medo e confuso, mas agora estas palavras estão além da minha capacidade, do que eu possa expressar. Por isso, preste atenção na linguagem do meu corpo (retração, agitação ou outros sinais de que algo está errado). Por um outro lado, posso parecer como um pequeno professor ou um artista de cinema dizendo palavras acima da minha capacidade na minha idade. Na verdade, são palavras que eu memorizei do mundo ao meu redor para compensar a minha deficiência na linguagem. Por que eu sei exatamente o que é esperado de mim como resposta quando alguém fala comigo. As palavras difíceis que de vez em quando falo podem vir de livros, TV, ou até mesmo serem palavras de outras pessoas. Isto é chamado de ECOLALIA. Não preciso compreender o contexto das palavras que estou usando. Eu só sei que devo dizer alguma coisa.

6) Eu sou muito orientado visualmente porque a linguagem é muito difícil para mim. Por favor, mostre-me como fazer alguma coisa ao invés de simplesmente me dizer. E, por favor, esteja preparado para me mostrar muitas vezes. Repetições consistentes ajudam-me a aprender. Um esquema visual ajuda-me durante o dia-a-dia. Alivia-me do stress de ter que lembrar o que vai acontecer. Ajuda-me a ter uma transição mais fácil entre uma atividade e outra. Ajuda-me a controlar o tempo, as minhas atividades e alcançar as suas expectativas. Eu não vou perder a necessidade de ter um esquema visual por estar crescendo. Mas o meu nível de representação pode mudar. Antes que eu possa ler, preciso de um esquema visual com fotografias ou desenhos simples. Com o meu crescimento, uma combinação de palavras e fotos pode ajudar mais tarde a conhecer as palavras.

7) Por favor, preste atenção e diga o que eu posso fazer ao invés de só dizer o que eu não posso fazer. Como qualquer outro ser humano não posso aprender em um ambiente onde sempre me sinta inútil, que há algo errado comigo e que preciso de "CONSERTO". Para que tentar fazer alguma coisa nova quando sei que vou ser criticado? Construtivamente ou não é uma coisa que vou evitar. Procure o meu potencial e você vai encontrar muitos! Terei mais que uma maneira para fazer as coisas.

8) Por favor, me ajude com as interações sociais. Pode parecer que não quero brincar com as outras crianças no parque, mas algumas vezes simplesmente não sei como começar uma conversa ou entrar na brincadeira. Se você pode encorajar outras crianças a me convidarem a jogar futebol ou brincar com carrinhos, talvez eu fique muito feliz por ser incluído. Eu sou melhor em brincadeiras que tenham atividades com estrutura começo-meio-fim. Não sei como "LER" expressão facial, linguagem corporal ou emoções de outras pessoas. Agradeço se você me ensinar como devo responder socialmente. Exemplo: Se eu rir quando Sandra cair do escorrega não é que eu ache engraçado. É que eu não sei como agir socialmente. Ensine-me a dizer: "você esta bem?".

9) Tente encontrar o que provoca a minha perda de controle. Perda de controle, "chilique", birra, má-criação, escândalo, como você quiser chamar, eles são mais horríveis para mim do que para você. Eles acontecem porque um ou mais dos meus sentidos foi estimulado ao extremo. Se você conseguir descobrir o que causa a minha perda de controle, isso poderá ser prevenido - ou até evitado. Mantenha um diário de horas, lugares pessoas e atividades. Você encontrar uma sequência pode parecer difícil no começo, mas, com certeza, vai conseguir. Tente lembrar que todo comportamento é uma forma de comunicação. Isso dirá a você o que as minhas palavras não podem dizer: como eu sinto o meu ambiente e o que está acontecendo dentro dele.

10) Se você é um membro da família, me ame sem nenhuma condição. Elimine pensamentos como "Se ele pelo menos pudesse…" ou "Porque ele não pode…" Você não conseguiu atender a todas as expectativas que os seus pais tinham para você e você não gostaria de ser sempre lembrado disso. Eu não escolhi ser autista. Mas lembre-se que isto está acontecendo comigo e não com você. Sem a sua ajuda as minhas hipóteses de alcançar uma vida adulta digna serão pequenas. Com o seu suporte e guia, a possibilidade é maior do que você pensa. Eu prometo: EU VALHO A PENA.

E, finalmente três palavras mágicas: Paciência, Paciência, Paciência. Ajuda a ver o meu autismo como uma habilidade diferente e não uma incapacidade. Olhe por cima do que você acha que seja uma limitação e veja o presente que o autismo me deu. Talvez seja verdade que eu não seja bom no contato olho-no-olho e conversas, mas você notou que eu não minto, roubo em jogos, fofoco com as colegas de classe ou julgo outras pessoas? É verdade que eu não vou ser um Ronaldinho "Fenômeno" do futebol. Mas, com a minha capacidade de prestar atenção e de concentração no que me interessa, eu posso ser o próximo Einstein, Mozart ou Van Gogh (eles também tinham Autismo), uma possível resposta para Alzheimer, o enigma da vida extraterrestre, etc. - O que o futuro tem guardado para crianças autistas como eu, está no próprio futuro. Tudo que eu posso ser não vai acontecer sem você sendo a minha Base. Pense sobre estas "regras" sociais e se elas não fazem sentido para mim, deixe de lado. Seja o meu protetor. Seja o meu amigo e nós vamos ver até onde eu posso ir.

Tradução: Ellen Nottohm





segunda-feira, 22 de julho de 2013

EU NÃO EDUCO MEU FILHO PARA A INDEPENDÊNCIA

Eu não educo meu filho pra independência e sim para a autonomia, porque um ser humano nunca será independente. Somos todos seres sociais que precisam uns dos outros para viver. Quem vem me dizer que devo dar menos colo para o meu bebê, quem sugere que eu o deixe em um carrinho em nome de uma liberdade que eu não desejo, quem diz que cama compartilhada é perigoso, quem diz que choro é birrinha manipuladora, quem se incomoda com o excesso de amor que dou pra ele, enfim, tem uma compreensão das necessidades de um bebê bem diferente da minha.
A minha compreensão (respaldada por evidências científicas e pela minha intuição) é a de que bebês precisam ser atendidos em suas necessidades de contato (pele, colo e peito) para que se sintam seguros e para que, assim, comecem a desenvolver a autonomia. Não sou eu que tenho que forçar esse aprendizado, a autonomia é uma característica inerente ao ser humano e a minha plena confiança nisso faz com que eu sinta prazer em ter a minha liberdade temporariamente limitada em prol do desenvolvimento da liberdade dele. Gradualmente ele se desenvolve. Eu confio na potência do meu filho. Confiança faz parte do amor. Amor é o oposto do medo. A minha liberdade, hoje, está em amar meu filho e faço isso por meio do corpo. Eu o amo com a pele, com o colo, com o seio.
Quando ele aprender a ouvir e a falar, quando ele aprender a me amar e a se relacionar com o mundo por meio das palavras, a necessidade da pele, do colo e do peito vai diminuir. Até que o seu vocabulário aumente e meu peito não seja mais necessário. Porque essa é a função do seio: nutrir e acalmar. Até que ele fique fluente na língua portuguesa e saiba verbalizar suas frustrações e inseguranças e não precise gritar e chorar e vir pro meu colo porque sabe que um diálogo resolve seu problema mais rapidamente. Até que ele não caiba mais dentro do meu colo. E mesmo depois de aprender a escrever, ele sempre terá as minhas mãos para um cafuné nos momentos em que palavra nenhuma funcionar.
Eu não o educo para a independência e sim para que ele seja uma pessoa confiante em sua própria capacidade de lidar com tudo o que acontecer com ele, inclusive com as frustrações. Isso é autonomia. Eu o educo para que ele saiba confiar em si mesmo. Para isso, ele precisa de alguém que confie nele antes. Eu confio no meu filho, acredito que seu choro é um chamado que merece ser ouvido, não birrinha. E sei o que ele quer quando me chama: colo, pele, peito. Eu o educo para que a partir de sua autoconfiança, ele tome decisões que tragam consequências positivas para sua vida e para o coletivo. Eu o educo para que ele também aprenda a confiar nas pessoas do mesmo jeito que quero que ele confie em mim. Eu o educo para que ele tenha uma referência cristalina de amor. Eu o educo para que ele entenda que eu não sou perfeita, que tenho direito ao erro tanto quanto ele, mas que eu busco desenvolver cada vez mais a minha capacidade de acertar, porque sempre é possível ser uma pessoa mais consciente. Não para ser independente.
A independência é a ilusão do século XX. Eu educo o meu filho para o século XXI. Para o hoje. E para o amor que é o que une todos nós apesar das diferenças. O amor infinito e atemporal.




segunda-feira, 15 de julho de 2013

DESAFIOS E AVANÇOS NO TRATAMENTO PARA O AUTISMO


O início dos testes de uma droga contra a síndrome de Rett, um transtorno que atinge meninas com uma mutação genética, está abrindo caminho para a busca de tratamentos para o autismo --síndrome psiquiátrica de alta prevalência contra a qual não há nenhum fármaco.
A síndrome de Rett é uma doença rara, mas sua semelhança com o autismo típico instiga cientistas, que veem nela uma janela para investigar drogas mais gerais contra esse transtorno, caracterizado por problemas motores, de comunicação e de afeto.
Três ensaios clínicos estão testando a ação do IGF1, um hormônio de crescimento, em meninas com Rett.
O primeiro avaliou seis pacientes no Hospital Versilia, na Toscana (Itália), e concluiu que a droga é segura. Apesar de não ter conseguido quantificar efeito terapêutico do remédio com tão poucas pacientes, o trabalho relata que todas as meninas tiveram melhora das funções cognitivas.
"Uma das pacientes, que não conseguia mover os braços, está agora comendo frutas sozinha usando suas mãos", disse à Folha Daniela Tropea, médica que liderou o ensaio clínico. "Já é um grande avanço."
O grupo italiano ainda não conseguiu apoio para iniciar um estudo em escala maior para avaliar a eficácia da droga. Cientistas do Hospital de Crianças de Boston, porém, já têm um teste de fase dois --são necessários três para aprovar uma droga-- em andamento, com objetivo de recrutar 40 meninas.
semelhanças
A síndrome de Rett, que era considerada um transtorno da classe do autismo, deixou de sê-lo no DSM-5, o novo manual de diagnósticos da Associação Americana de Psiquiatria, lançado neste ano.
No entanto, Alysson Muotri, cientista brasileiro na Universidade da Califórnia em San Diego, defende a ideia de que as duas doenças têm semelhanças o suficiente para que um mesmo tipo de tratamento funcione em ambas.
Não há nenhum teste programado da droga em crianças autistas ainda, mas Muotri já mostrou que o IGF1 é capaz de "curar" neurônios criados a partir de células de crianças autistas ou com Rett.
O brasileiro tem dúvidas, porém, sobre se esse hormônio é pequeno o bastante para atingir todos os neurônios necessários. Seu laboratório agora busca moléculas com efeito mais potente.
O biólogo ajudou os NIH (Institutos Nacionais de Saúde dos EUA) a montarem um centro que usa um sistema de pesquisa robotizado para testar centenas de compostos em amostras de células reprogramadas de crianças autistas e com Rett.
Jeffrey Neul, do Baylor College, de Houston, já começou a testar em pacientes adultas uma versão alterada do IGF1.
Com ajuda de uma farmacêutica neozelandesa, ele extraiu um peptídeo --pedaço da molécula do hormônio-- e o modificou para se tornar quimicamente estável.
Em sua nova forma, a droga penetra o cérebro com mais eficácia e previne efeitos colaterais em pacientes com problemas metabólicos --dificuldade verificada no uso de IGF1 em experimentos com camundongos.
"Doenças como a síndrome de Rett permitem vislumbrar um pouco o autismo idiopático [clássico]. Esperamos que muitos dos tratamentos testados para essas doenças possam vir a beneficiar um subconjunto de pessoas com autismo, ainda que não seja possível ajudar todas elas", diz Neul.


RAFAEL GARCIA

Folha de São Paulo