"Não devemos permitir que uma só criança fique em sua situação atual sem desenvolvê-la até onde seu funcionamento nos permite descobrir que é capaz de chegar. Os cromossomos não têm a última palavra". (Reuven Feuerstein)

terça-feira, 9 de setembro de 2014

Fé Jegede: O que eu aprendi com meus irmãos autistas


Hoje, tenho apenas um pedido. Por favor, não digam que sou normal.

Agora, gostaria de apresentar-lhes meus dois irmãos. Remi tem 22 anos, é alto e muito bonito. Ele não fala, mas comunica alegria de uma forma que poucos dos melhores oradores conseguem. Remi sabe o que é o amor. Ele o partilha incondicionalmente e ele o compartilha independentemente, Ele não é mesquinho. Ele não vê a cor da pele. Ele não liga para diferenças religiosas, e ouçam essa: Ele jamais contou uma mentira. Quando ele canta as canções da nossa infância, tentando usar palavras que nem eu consigo recordar. ele me faz lembrar duma coisa: do quão pouco conhecemos a mente, e do quão maravilhoso deve ser o desconhecido.

Samuel tem 16 anos. Ele é alto. É muito bonito. Ele tem uma memória impecável. Contudo, sua memória é seletiva. Ele não se lembra se roubou minha barra de chocolate, mas se lembra do ano de lançamento de cada música no meu iPod, de conversas que tivemos quando ele tinha quatro anos, de ter feito xixi no meu braço durante o primeiro episódio dos Teletubbies, e do dia do aniversário da Lady Gaga.

Não são incríveis? Mas, a maioria das pessoas não concorda. E, porque suas mentes não encaixam na versão que a sociedade tem sobre normalidade, eles são frequentemente deixados de lado e mal compreendidos.

Mas o que me deu ânimo e fortaleceu minha alma é que embora esse fosse o caso, embora eles não sejam considerados pessoas comuns, isto só pode significar uma coisa: que eles são extraordinários -autistas e extraordinários.

Para quem não esteja muito familiarizado com o termo "autismo". trata-se de um distúrbio cerebral que afeta a comunicação social, as habilidades de aprendizado e, às vezes, as habilidades físicas. Ele se manifesta de forma diferente em cada indivíduo. e é por isso que Remi é diferente do Sam. Em todo o mundo, a cada 20 minutos, alguém é diagnosticado com autismo. E, embora seja um dos transtornos dedesenvolvimento que mais cresce no mundo, não se conhece causa ou cura.

Nem consigo lembrar-me do primeiro momento em que me defrontei com autismo, mas não posso me lembrar de um dia sequer sem ele. Eu tinha apenas três anos quando meu irmão nasceu, e eu estava tão entusiasmada por ter um novo ser em minha vida. Depois de alguns meses, percebi que ele era diferente. Ele gritava muito. Ele não queria brincar como os outros bebes, e, de fato, ele não parecia nem um pouco interessado em mim. Remi vivia e reinava no seu próprio mundo, com suas próprias regras, e encontrava prazer nas mínimas coisas, como colocar carros em fila ao redor do quarto e ficar olhando a máquina de lavar, e comer qualquer coisa que estivesse no seu caminho. À medida que foi crescendo, ele era cada vez mais diferente, e as diferenças tornaram-se mais óbvias. Porém, além das birras e das frustrações e da hiperatividade incessante havia algo realmente único: uma natureza pura e inocente, um garoto que via o mundo sem preconceito, um ser humano que jamais mentiu. Extraordinário.

Agora, não posso negar que houve alguns momentos bem desafiadores na minha família, momentos nos quais eu desejava que eles fossem como eu. Mas, eu me recordo das coisas que eles me ensinaram sobre individualidade, comunicação e amor, e percebo que estas são coisas que eu não gostaria de mudar com a normalidade. A normalidade desconsidera a beleza que as diferenças nos traz, e que o fato de sermos diferentes não significa que um de nós esteja errado. Significa apenas que há um tipo diferente de certo. E se eu puder dizer ao Remi apenas uma coisa e ao Sam e para vocês é que vocês não precisam ser normais. Vocês podem ser extraordinários. Porque sendo ou não autista as nossas diferenças - Temos um dom! Todos temos um dom dentro de nós mesmos, e para ser totalmente honesta, a busca da normalidade é o sacrifício extremo da potencialidade. A oportunidade de crescimento, de progresso e mudança morre no momento em que tentamos ser como alguma outra pessoa.

Por favor, não me digam que sou normal. Obrigada.


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