A educação do autista é dificultada pela dificuldade de socialização,
que faz com que o autista tenha uma consciência pobre da outra pessoa e é
responsável, em muitos casos, pela falta ou diminuição da capacidade de imitar,
que uns dos pré-requisitos cruciais para o aprendizado, e também pela
dificuldade de se colocar no lugar de outro e de compreender os fatos a partir
da perspectiva do outro.
Pesquisas mostraram que mesmo nos primeiros dias de vida um
bebê típico prefere olhar para rostos do que para objetos. Através das
informações obtidas pela observação do rosto dos pais, o bebê aprende e
encontra motivação para aprender. Já o bebê com autismo dirige sua atenção
indistintamente para pessoas e para objetos, e sua falha em perceber pessoas
faz com que perca oportunidades de aprendizado, refletindo em um atraso do
desenvolvimento.
Os pais e os profissionais estão bem cientes das dificuldades
que as crianças com autismo têm em muitos ambientes educacionais. Em resposta
têm desenvolvido programas alternativos e estratégias de intervenção. Embora
alguns destes sejam úteis, a maioria enfatiza a correção das dificuldades
comportamentais para melhorar o rendimento educacional. Entretanto, um outro
aspecto do problema tem recebido menos atenção: as necessidades específicas de
aprendizagem desta população especial. As necessidades envolvidas incluem
dificuldades organizacionais, distração, problemas em sequenciar, falta de
habilidade em generalizar, e padrões irregulares de pontos fortes e pontos
fracos. Embora nenhum destes se aplique à população inteira dos alunos com
autismo, estes problemas de aprendizagem são vistos em um grau significativo em
uma porcentagem grande destes alunos.
A organização é difícil para alunos com autismo. Requer uma
compreensão do se quer fazer e um plano para a execução. Estas exigências são
suficientemente complexas, inter-relacionadas e abstratas para apresentar
obstáculos incríveis para alunos com autismo. Quando fica cara a cara com
demandas organizacionais complexas, eles ficam frequentemente imobilizados e
muitas vezes nunca não são capazes de executar as tarefas pedidas.
O desenvolvimento de hábitos sistemáticos e rotinas de
trabalho tem sido uma estratégia eficaz para minimizar estas dificuldades
organizacionais. Os alunos com rotinas de trabalho estabelecidas da esquerda
para a direita, de cima para baixo, não param de trabalhar para planejar onde
começar e como prosseguir. As dificuldades organizacionais são minimizadas
também com as listas de verificação, programações e instruções visuais
mostrando concretamente aos alunos autistas o que foi completado, o que precisa
ser terminado e como prosseguir.
A distração é outro problema comum dos alunos com autismo.
Ela toma diversas formas na sala de aula: reagindo aos ruídos externos de
carro, acompanhando visualmente os movimentos na sala de aula, ou “estudando” o
lápis do professor na mesa ao invés de terminar o trabalho pedido. Embora a
maioria de alunos autistas seja distraída por alguma coisa específica, as
distrações divergem consideravelmente de uma criança para outra.
A identificação do que distrai cada aluno é o primeiro passo
para ajudá-los. Para alguns podem ser estímulos visuais, enquanto para outros
podem ser auditivos. As distrações podem estar respondendo a ruídos externos ou
a movimentos visuais como também podem não se concentrar em aspectos centrais
de tarefas pedidas. As avaliações cuidadosas das distrações individuais são
cruciais. Depois destas avaliações as modificações ambientais podem ser feitas:
podem envolver a disposição física da área de trabalho do aluno, a apresentação
de tarefas relacionadas ao trabalho, ou muitas outras possibilidades.
A sequenciação é outra área de dificuldade. Estes alunos
frequentemente não podem se lembram da ordem precisa das tarefas, porque se
atém de forma concreta a detalhes específicos e nem sempre vêm relação entre
elas. Porque as sequências implicam nestas relações, são frequentemente
desconsideradas.
As rotinas consistentes de trabalho e as instruções visuais
compensam essas dificuldades. As instruções visuais podem destacar sequências
de eventos e fazer com que os alunos autistas se lembrem da ordem adequada a
seguir. A figura visual permanece atual e concreta, ajudando o aluno seguir a
sequência desejada. O estabelecimento de hábitos sistemáticos de trabalho é
também útil; um aluno que trabalhe sempre da esquerda para a direita pode ter o
trabalho apresentado na sequência correta.
As dificuldades com generalização são bem conhecidas no
autismo e têm implicações importantes para práticas educacionais. Os alunos com
autismo frequentemente não podem aplicar o que aprenderam em uma situação
específica a ambientes/contextos semelhantes. A generalização adequada requer
uma compreensão dos princípios fundamentais nas sequências aprendidas e nas
maneiras sutis pelas quais elas são aplicáveis a outras situações. Atendo-se a
detalhes específicos, os alunos com autismo frequentemente perdem esses
princípios centrais e suas aplicações.
A colaboração entre os pais e profissionais e a instrução de
base comunitária são maneiras importantes para melhorar a generalização nos
alunos com autismo. Quanto maior for o empenho pela coordenação entre a casa e
a escola, maior a probabilidade dos alunos aplicarem o que aprenderam a
situações/contextos/ambientes diferentes. O uso de abordagens semelhantes e a
ênfase em habilidades semelhantes são as maneiras pelas quais os pais e os
profissionais podem colaborar para melhorar as habilidades da generalização das
habilidades de seus alunos.
Um ensino de base comunitária é também importante para
melhorar as habilidades de generalização. Porque o objetivo final é um
treinamento bem sucedido de base comunitária, as atividades devem estar
disponíveis em todos os programas educacionais. Isto deveria incluir passeios
regulares ao campo real de atuação com uma freqüência crescente à medida que os
alunos ficam mais velhos, oferecer oportunidades de trabalhos na comunidade em
contextos “reais”, e atividades de lazer na comunidade.
Dentre os modelos educacionais para o autista, um dos mais
importantes é o método TEACCH (Treatment and Education of Autistic and
Communication Handicapped Children, em português, Tratamento e Educação de Crianças
Autistas e com Desvantagens na Comunicação), desenvolvido pela Universidade da
Carolina do Norte e que tem como postulados básicos de sua filosofia:
- propiciar o desenvolvimento adequado e compatível com as potencialidades e a faixa etária do paciente;
- funcionalidade (aquisição de habilidades que tenham função prática);
- independência (desenvolvimento de capacidades que permitam maior autonomia possível);
- integração de prioridades entre família e programa, ou seja, objetivos a serem alcançados devem ser únicos e a estratégias adotadas devem ser uniformes.
Dentro desse modelo, é estabelecido um plano terapêutico
individual, onde é definida uma programação diária para a criança autista. O
aprendizado parte de objetos concretos e passa gradativamente para modelos
representacionais e simbólicos, de acordo com as possibilidades do paciente.
O papel do professor
A escola oferece um ambiente propício para a avaliação emocional
das crianças e adolescentes por ser um espaço social relativamente fechado,
intermediário entre a família e a sociedade. É na escola onde a performance dos
alunos pode ser avaliada e onde eles podem ser comparados estatisticamente com
seus pares, com seu grupo etário e social.
Dentro da sala de aula há situações psíquicas significativas,
nas quais os professores podem atuar tanto beneficamente quanto, consciente ou
inconscientemente, agravando condições emocionais problemáticas dos alunos. Por
exemplo, as crianças autistas não compreendem como se estabelecem as relações
de amizade. Algumas não têm amigos, enquanto outras pensam que todos em sua
sala de aula são seus amigos. Os alunos podem trazer consigo um conjunto de
situações emocionais intrínsecas ou extrínsecas, ou seja, podem trazer para
escola alguns problemas de sua própria constituição emocional (ou
personalidade) e, extrinsecamente, podem apresentar as conseqüências emocionais
de suas vivências sociais e familiares.
Os perfis irregulares das habilidades e dos déficits são
características bem documentadas nos alunos com autismo. Também estão entre os
mais difíceis para se desenvolver programas específicos. Um aluno autista pode
ter a habilidade extraordinária de estabelecer relações espaciais ou de
entender conceitos numéricos, mas ser incapaz de usar estes pontos fortes por
causa das limitações organizacionais e de comunicação. São necessários
professores com habilidade e com experiência, em ensinar na presença destes
pontos fortes e fracos tão singulares.
Ensinar alunos com esta ampla gama de habilidades requer
avaliações completas de todos os aspectos de seu funcionamento. Isto não pode
se restringir às habilidades acadêmicas, mas deve também incluir os estilos de
aprendizagem, distratibilidade, funcionamento em situações de grupo, em
habilidades independentes, e em tudo mais que possa ter impacto sobre a
situação de aprendizagem. Os estilos de aprendizagem são especialmente
importantes para o processo da avaliação porque são essenciais para liberar o
potencial de aprendizagem.
Como cada criança com autismo processa a informação e quais
são as melhores estratégias de ensino devido à singularidade de seus pontos
fortes, interesses e habilidades em potencial? Um professor hábil pode abrir a
porta para várias oportunidades. Os adultos com o autismo que trabalham em
bibliotecas, com computadores, em restaurantes, e muitos outros ambientes; são
evidências de que, se tiverem instrução adequada, podem se tornar adultos
produtivos. Porém, um número excessivo de programas de educação não reconhece
os pontos fortes e déficits singulares deste grupo enigmático de aprendizes.
A principal possibilidade para uma melhoria constante é uma
maior consideração das suas singularidades e mais treinamento para profissionais
para ajudá-los a entender seus estilos de aprendizagem.
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