Autismo era considerado uma condição rara, que atingia
quatro indivíduos para cada 10 mil vivos. Hoje, a pesquisa mais recente fala em
um para cada 92.
Neste domingo (4), o Fantástico estreou a série ‘Autismo:
Universo Particular’. Para produzir a série, Dráuzio Varella esteve casa de
vários pacientes portadores desse transtorno para mostrar como vivem essas
famílias e essas crianças.
No Paraná, há uma família com dois filhos em que o
autismo se manifesta de uma forma bem diferente em cada um dos irmãos. O pai
passa as noites segurando o filho enquanto ele dorme.
Kevin não para de se mexer e se bate repetidamente.
Durante a noite, ele acorda querendo tomar banho, porque só isso o acalma por
algum tempo. “Já tive vontade até de me matar pela situação de bater nele, dele
se agredir e não ter o que fazer, entendeu? Já passou pela minha cabeça de
fazer qualquer besteira, então é difícil”, conta o pai.
Os pais de Kevin estão em busca do diagnóstico de que o
filho tenha autismo, um distúrbio que desafia a ciência. Não se sabe as suas
causas e ele é cada vez mais comum. Especialistas calculam que o autismo atinja
1% das crianças.
“O autismo hoje é considerado um distúrbio no
desenvolvimento causado por condições genéticas e ambientais e que, na verdade,
não é uma condição só. Hoje, a gente fala em um conjunto de autismos pela
enorme variabilidade que ele tem. A característica fundamental dos autismos é o
prejuízo na comunicação, na interação social e na presença de comportamentos
peculiares. Comportamentos repetitivos sem muito significado, que os indivíduos
parecem ficar realizando sem uma finalidade muito clara”, explica o
neuropediatra especialista em autismo Salomão Schwartzman.
O médico explica que o autismo era considerado uma
condição rara, que atingia quatro indivíduos para cada 10 mil vivos. Ele aponta
que a pesquisa mais recente fala em um para cada 92. “A gente está falando de
uma coisa que não é rara, é extremamente comum. Você encontra na escola, no
escritório, no seu consultório, identifique ou não”, avalia Schwartzman.
Segundo o especialista, o autista é metódico. “O mundo
ideal é aquele em que as coisas não se modificam. Eu acordo na mesma hora,
visto a mesma roupa, tomo café do mesmo jeito, no mesmo prato, com a mesma
xícara. Qualquer variação disso traz um extremo desconforto”, explica o
neuropediatra.
Uma família que vive o autismo muito intimamente mora em
Teófilo Otoni, em Minas Gerais. Renato, o pai, sempre foi meio esquisitão.
“Desde criança eu achava ser estranho normal, mas porque eu tirava por mim.
Para mim, todo mundo era estranho”, conta ele. Renato casou com Ana Maria, que
já tinha uma filha, Fernanda. Juntos, eles tiveram Mateus e Máximo – os dois
com autismo – e Bárbara, a mais nova. “Eu já estou mais do que acostumada a
lidar com eles. Na verdade, acho eles mais fáceis por causa da questão da
rotina”, diz Ana.
Mas mesmo as atividades mais rotineiras podem ser um
imenso desafio para pessoas com autismo. Escolher um conjunto de roupas para
trocar o filho pode ser uma tarefa impossível.
“É muita opção. Combinação de cor, de não sei o que...
Sempre me visto pelo conforto e, exatamente para não ter esse problema de
combinação, visto uma cor só”, brinca Renato.
Os humanos são animais sociais. Se não tivessem formado
grupos, os antepassados teriam desaparecido da face da Terra. Mas há pessoas
com transtorno de desenvolvimento que apresentam enorme dificuldade de
relacionamento social. Para elas, sons, movimentos, olhares e solicitações dos
outros provocam um curto-circuito que as deixa desorientadas e aflitas. O
autismo é um transtorno desse tipo, no qual a rede de neurônios que controla,
no cérebro, a comunicação e os contatos sociais está desorganizada. “Diria que
a marca registrada do autismo é a falta de desejo ou de possibilidade de
interagir com o outro”, diz Schwartzman.
Atualmente, o autismo é considerado um distúrbio com um
amplo espectro de manifestações, desde as crianças, como Kevin e Máximo, que
têm enormes dificuldades de responder aos estímulos, até pessoas que têm
problemas de convívio social, mas são extremamente talentosas em áreas
específicas. O cérebro deles funciona de forma única, que ainda é um mistério
para a ciência.
Em um quarto cheio de circuitos eletrônicos e fórmulas
matemáticas, um autista genial é Jacob Barnett. Ele está prestes a se tornar
mestre em física quântica aos 14 anos. Ele dá aulas na internet desde pequeno e
hoje participa de pesquisas na Universidade de Indiana, nos Estados Unidos, e
pode ganhar o Prêmio Nobel.
O caso dos irmãos de Curitiba Nicholas, de 13 anos, e
Thomas, de 15, é parecido. O mais velho, que já aos 3 anos demonstrava
facilidade com números, já fez diversos cursos em nível universitário nas áreas
de matemática e ciência da computação.
Segundo o neuropediatra Salomão Schwartzman, o impacto de
um filho autista em uma família pode ser brutal. “É algo muito difícil de você
lidar. Quando você tem um filho que é um deficiente intelectual, por qualquer
razão que seja, depois de algum tempo, por maior que seja o luto que você tem
com relação a isso, você se habitua a uma criança que bem ou mal tem uma linha
de base. Ou seja, ele tem prejuízos, mas que depois de algum tempo você sabe
quais são e passa a conviver bem com isto”, diz.
Na novela ‘Amor à vida’, a atriz Bruna Linzmeyer
interpreta Linda, uma garota com autismo. “Eu tinha ouvido falar muito pouco
sobre o autismo, porque é um tema muito pouco conhecido pela nossa sociedade. A
gente criou uma linguagem dessa personagem se comunicar, como ela
dramaturgicamente se envolve em cena. Isso é o mais difícil. Cada detalhe é
muito importante”, conta ela.
Na próxima semana, o Fantástico investiga o diagnóstico
de autismo: como descobrimos que alguém tem autismo se nem sabemos ao certo o
que provoca esse distúrbio? Não perca!
Fonte: G1
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